segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Violões e Atabaques no Despertar da Música Brasileira - Parte II

Em 1905, a repressão policial contra os grupos que promoviam as obscenas músicas proibidas - lundu, samba, maxixe - deu lugar a que se popularizasse uma antiga canção que dizia:

Eu vou beber/Eu vou me embriagar/Eu vou fazer barulho/Pra polícia me pegar/A polícia não quer/Que eu sambe aqui/Eu sambo ali/Sambo acolá

A palavra samba aparece aqui apenas no sentido de dança, mas o ritmo já começava a ser lançado. Quanto ao maxixe, continuava a ser "uma dança banida dos lares, por indecorosa", como informa o português João Chagas. "Contudo, muitas vezes, na casa brasileira" - diz Luiz Edmundo - "às escondidas do papai conservador e tradicionalista, as nossas sinhazinhas e sinhás não só cantam o que a canalha pela rua canta, como dançam também, umas com as outras, divertidas e alegres, os passos do corta-jaca ou do balão caído que aprendem pelos teatros que frequentam. É o fruto proibido saboreado à socapa, num despertar gostoso dos instintos da raça".

A difusão da música por todo o país foi apressada com o aparecimento do grammophone que a revista O Malho anunciava, em 1904, como "a maior novidade do século XX" e "o maior atrativo para as crianças". Surgiram então as primeiras e rudimentares gravações que reproduziam cançonetas interpretadas pelo Bahiano, e lundus de Mário Pinheiro, cantores muito apreciados pelo público que frequentava habitualmente os teatros e cafés-concerto da Capital Federal. Bahiano, cujo verdadeiro nome era Manoel Pedro dos Santos, gravou o primeiro disco brasileiro, Isto É Bom, número de ordem 1, no catálogo de 1902 da Casa Edison do Rio de Janeiro.

Isto é Bom (lundu, 1902) - Xisto Bahia - Interpretação: Bahiano


Art Nouveau, uma das primeiras gravações de Bahiano, de autor desconhecido, falava da nova moda recém-importada de Paris. A discografia do período também abria caminho para o sucesso de grandes compositores, como Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e o consagrado flautista Pattapio Silva. Este último gravou para a Casa Edison, em 1901, nada menos que oito discos.

Primeiro amor (valsa, 1904) - Pattapio Silva


Enquanto isso acontecia com a música popular, na esfera da música erudita surgiram algumas figuras de relevo. Se logo no princípio do decênio perdiamos Leopoldo Miguez (1902) - de todos os nossos compositores o que mais se deixou levar pelo fascínio de Wagner - receberiamos, em 1903, a importante contribuição de Henrique Oswald, desde ano diretor do Instituto Nacional de Música, e autor de obras intimistas como a Sinfonia opus 43, de 1910. No ano do quarto centenário da descoberta do Brasil (1900), foi levada à cena a ópera Jupira, de Francisco Braga, inspirada na novela homônima de Bernardo Guimarães. Nesse primeiro decênio, Braga tornou-se muito popular pela composição do Hino à Bandeira, com versos de Olavo Bilac.


Mas a figura mais expressiva de compositor erudito nacional do período é sem dúvida o cearense Alberto Nepomuceno. Desde 1897, com a Série Brasileira (Alvorada na Serra, Intermedio, Sesta na Rede e Batuque), dera ele prosseguimento -  na direção de certa música de intenção nacionalista - às tentativas que o paulista Alexandre Levy havia esboçado, em 1890, com o Tango Brasileiro e o Samba. Durante a Exposição Nacional de 1908, Nepomuceno regeu pela primeira vez no Brasil obras de novos autores estrangeiros como Smetana e Debussy.





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