segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Primeira Geração da MPB (1901/1930)

Num Post recente (Seis Compositores e Um Intérprete - 09/01/2012), apresentei alguns membros da "primeira geração" da MPB: Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Catulo da Paixão Cearense, Vicente Celestino, Pixinguinha e Francisco Alves). Em seguida, comecei a apresentar pequenas biografias de alguns deles: Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense.

Esses quatro seriam os seniores, ou os precursores, se assim preferir meu nobre leitor (ou leitora). Mas, eles não chegaram a "alcançar" a Era do Rádio...


Explico: MPB significa Música Popular Brasileira. E a música só se popularizou, no Brasil, com o advento do rádio. Antes dele, haviam apenas as vitrolas, as quias pouca gente tinha acesso. Além de caras, havia o preço (extra) dos discos de cera, que nem duravam tanto assim. Então, música era algo que ou se ouvia ao vivo, ou raramente, gravada. Por isso, dificilmente a música era popular...

A primeira transmissão de rádio, no Brasil, ocorreu em 1922. Nesse ano, Carlos Gomes já tinha falecido, Chiquinha Gonzaga tinha 75 anos, Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense tinham 59...

Nessa época, a "segunda geração" ainda não tinha entrado em ação. Assim, ouvia-se principalmente música clássica, e uns poucos artistas, com os já citados, além de artistas estrangeiros, como Billy Murray (1877/1954), W. C. Handy (1873/1958), Enrico Caruso (1873/1921) e Al Jolson (1886/1950), entre outros...

Nicolau Sevcenko, em seu texto A Capital Irradiante: Técnica, Ritmos e Ritos do Rio (História da Vida Privada, Vol. 3), informa que o rádio foi chamado, nessa época, de "capelinha", por causa de seu formato lembrando justamente as "capelinhas" que iam de casa em casa, para oração (como é até hoje):

Era um modo de remeter a um recôndito familiar das tradições e das memórias um artefato moderno e de efeito arrebatador. Cada um põe naquela voz aliciante o rosto e o corpo dos seus sonhos. Como o som se transmite pelo espaço, onde quer que se ande pela casa, aquela voz penetrante vai atrás.


Entre 1922 e 1930, entretanto, se multiplicaram as "rádio clubes", sociedades onde as elites emprestavam seus discos para tocar na rádio. Assim, poucos tinham aparelho em casa, e os que tinham, ouviam o que seus pares podiam oferecer...E a indústria fonográfica nacional mal existiu. Quem dirá o surgimento de novos nomes...abaixo, alguns deles:

1) Xisto Bahia (1841/1894): cantor e compositor nascido em Salvador, Xisto de Paula Bahia começou a compor modinhas e lundus e fazer sucesso, já aos dezessete anos, e se apresentando pelo interior do país. Chegou ao Sudeste, se apresentando até para Dom Pedro II. Quando foi inaugurada a Casa Edison, primeira gravadora do Brasil, Xisto compôs o lundu Isto é Bom (1902, abaixo). Essa música foi grava pelo cantor Bahiano, no primeiro disco gravado no Brasil:


2) Donga (1890/1974): Ernesto Joaquim Maria dos Santos nasceu no Rio de Janeiro e era filho de Tia Amélia, uma das baianas que promoviam festas em suas casas (outra era Tia Ciata). Aos 14 anos, começou a tocar cavaquinho, e depois passou para o violão. Foi numa dessas festas que surgiu Pelo Telefone (1917), que Donga tratou de registrar como de sua autoria, identificando-o como samba. Assim, ele é considerado autor do primeiro samba brasileiro. Junto com Pixinguinha, integrou a banda Os Oito Batutas, que em 1922 chegou a se apresentar na Europa.


3) Sinhô (1888/1930): José Barbosa da Silva é considerado um dos grandes compositores de antigamente. Se casou cedo, com uma portuguesa, aos 17 anos, e trabalhou duro para sustentar os três filhos. Mesmo assim, não perdia uma festa na casa da Tia Ciata. Quando Donga registrou Pelo Telefone como sendo de sua autoria, Sinhô foi um dos que contestou, dizendo que a música se chamava O Roceiro e era sua. A briga virou música, sendo que Pixinguinha compôs Já Te Digo. Em resposta, Sinhô compôs a primeira marchinha da História, chamada O Pé de Anjo (abaixo, em gravação de 1950 - Blecaute). Depois compôs Fala Baixo (1921), que ofendeu o Presidente Artur Bernardes, obrigando-o a fugir. Deu aulas de violão a Mário Reis, que depois interpretou seus dois maiores sucessos: Jura (1928) e Gosto Que Me Enrosco (1928). Faleceu em 1930, vítima da tuberculose, mas ganhou o título de Rei do Samba:


4) Zequinha de Abreu (1880/1935): José Gomes de Abreu nasceu em Santa Rita do Passa Quatro (SP) e se destacou por suas composições tocadas em flauta, sua especialidade. Ficou conhecido pela sua composições Tico-Tico no Fubá (1917), que foi imortalizada por Carmen Miranda:





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