sábado, 27 de novembro de 2010

Ontem Ao Luar/Choro E Poesia

Ontem ao Luar - Por sua semelhança com a canção "Love Story", do filme homônimo, a polca "Choro e Poesia" voltou a ser sucesso na década de 1970. Esse retorno rendeu-lhe mais de dez gravações, só que com um detalhe: todas traziam apenas o título "Ontem ao Luar", que recebeu de Catulo da Paixão Cearense quando, em 1913, o poeta lhe pôs uma letra, à revelia do autor.
E o que é pior, várias dessas gravações tal como edições da partitura, somente registravam o nome de Catulo, omitindo o de Pedro de Alcântara.
Em 1976, graças aos esforços de uma neta de Alcântara, sua autoria foi restabelecida através de uma decisão judicial. "Choro e Poesia" tem duas partes, ambas construídas com variações de um mesmo motivo, usado com muita engenhosidade especialmente na segunda parte, em tom maior.

Ontem ao Luar (Choro e Poesia) (polca, 1907) - Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense

Ontem ao luar / Nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste
O que era a dor de uma paixão
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas fitando o azul / Do azul do céu a lua azul
Eu te mostrei, mostrando a ti os olhos meus
Correr sem ti uma nívea lágrima e assim te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver a lágrima
Dos olhos a sofrer


A dor da paixão, não tem explicação
Como definir o que só sei sentir
É mister sofrer, para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta ao luar, do mar a canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão


Se tu desejas saber o que é o amor e sentir
O seu calor o amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe o monte a beira mar ao luar
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão do calado coração
A pena a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal / A dor silente universal
E a dor maior que é a dor de Deus


Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão
Porque ele vive assim tão triste a suspirar
A palpitar em desesperação
Na teima de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora Publifolha e A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/ontem-ao-luar-choro-e-poesia.html

Dicionário

nívea - da cor da neve
mister - necessário
taful - brincalhão
amaríssimo - muito amargo
travor - que trava, prende
dulçor - de doce
lacrimar - derramar lágrimas, chorar
perenal - que não para
silente - silenciosa
rósea - rosada
merencória - triste
sepulcro - túmulo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Música no Brasil - 1906 a 1910


Dando continuidade ao post sobre música do início do século, vamos fazer uma "viagem" à segunda metade da primeira década do século XX...

I - Nomes

Nascido em 1863, Catulo da Paixão Cearense completou 38 anos em 1901, quando começou o século XX. Apesar de ter a palavra "Cearense" no nome, ele era de São Luís do Maranhão. Seu pai, Amâncio José Paixão Cearense é que era do Ceará...
Desde 1880, ele passou a morar no Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como relojoeiro. Mas conheceu vários chorões, fez muitos cordéis e modinhas, chegando a compor com Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, entre outros.
Em 1906, compôs "Os Olhos Dela", com Irineu de Almeida e "Três Estrelinhas", com Anacleto de Medeiros e em 1907 compôs "Choro e Poesia", com Pedro de Alcântara e "Iara", com Anacleto de Medeiros. Mas, sem dúvida, sua música mais famosa é "Luar do Sertão", de 1914, que compôs em associação com João Pernambuco...

Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão...


II - Composições

1906 - "Casinha Pequenina" (Autor Desconhecido)
1907 - "Choro & Poesia"/"Ontem ao Luar" (Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense)
1910 - "Odeon" (Ernesto Nazareth)

III - Nascimentos

1907 - Mário Reis (Cantor)
1908 - Sílvio Caldas (Cantor/Compositor) e Cartola (Compositor)
1909 - Carmen Miranda (Cantora) e Ataulfo Alves (Cantor e Compositor)
1910 - Adoniran Barbosa (Compositor), Nelson Cavaquinho (Compositor) e Noel Rosa (Compositor)

IV - Novidades

A novidade, nesse caso, estava acontecendo longe do Brasil, mais precisamente nos EUA: em 1890, nasceu o Jazz, um dos ritmos mais conhecidos no mundo, desde então...Mas o primeiro disco de Jazz é de 1917, e a música chamava-se "Livery Stable Blues"

V - Vídeo

"Ontem Ao Luar", música de 1907, na voz de Marcelo Coutinho:






sábado, 20 de novembro de 2010

A Música no Brasil - 1901 a 1905


Como era o cenário musical do Brasil, entre 1901 e 1905? Vamos tentar imaginar...

I - NOMES

Em 1901, quando iniciava o século XX, Francisca Edwiges Neves Gonzaga completou 54 anos. Nascida em 1847, ela já tinha muito o que contar: seu pai era general do Exército e sua mãe era uma mulata humilde, sendo que seu padrinho foi o Duque de Caxias. Estudou mais do que muitas moças de sua época, mas adorava ritmos africanos como o lundu, que não eram bem aceitos nas "casas de família".
Aos 11 anos fez sua primeira composição ("Canção dos Pastores") e aos 16 teve que casar com o oficial da Marinha Jacinto Ribeiro do Amaral, conforme escolha do pai militar. Com ele, teve três filhos: João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário). Mas o casamento não deu certo, porque ele vivia a serviço e a proibia de compor. Assim, Francisca abandonou o marido, perdendo a guarda dos filhos mais novos.
Aos 20 anos, foi viver com o engenheiro João Batista de Carvalho, com quem teve a filha Alice Maria. Mas ele a traía muito, e Francisca também o abandonou, perdendo a guarda da filha.
Assim, ela foi viver de fazer música, enfrentando o preconceito da época ("mulher separada", "criando filho sozinha", vivendo de música") e fazendo o que gostava: dava aulas de piano e compunha suas músicas.
Aos 52 anos, Chiquinha Gonzaga conheceu João Batista Fernandes Lage, por quem se apaixonou e com quem foi viver. O detalhe é que ele tinha 16 anos. Assim, foram morar em Lisboa, Portugal, durante alguns anos. E ela viveria com ele até a sua morte, em 1935...

II - COMPOSIÇÕES

1901 - "Ó Abre Alas" (Chiquinha Gonzaga);
1902 - "Isto É Bom" (Xisto Bahia);
1904 - "Corta-Jaca" (Chiquinha Gonzaga) e "Saudades de Matão" (Jorge Galati);

III - NASCIMENTOS

1902 - Clementina de Jesus (cantora)
1903 - Ary Barroso (compositor);
1904 - Lamartine Babo (compositor)
1905 - Bidu Sayão (cantora) e Ismael Silva (compositor);

IV - NOVIDADES

Frederico Figner (1866/1947), nasceu na Boêmia (Tchecoslováquia) e emigrou para os Estados Unidos, e depois para o Brasil, com apenas 15 anos (1891). Ele foi o primeiro a viajar pelo Brasil, mostrando a todos o que era um fonógrafo.
Depois, fixou-se no Rio de Janeiro, onde abriu, em 1902, a Casa Édison, a primeira gravadora comercial do brasil.
Em 1902, Xisto Bahia compôs o lundu "Isto É Bom", que foi gravado num disco de cera de carnaúba, o Zono-o-Phone 10.001, tornando-se o primeiro disco gravado no Brasil.



V - NO EXTERIOR

Em 1902, o tenor italiano Enrico Caruso (1873/1921) gravou seu primeiro disco, tornando-se mundialmente famoso e ajudando a popularizar os gramofones e os discos. Pode-se dizer que ele foi o primeiro "astro popular" da música.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

19 de Novembro - Dia da Bandeira



19/11/1905: É executado pela primeira vez o “Hino à Bandeira” (música de Francisco Braga, letra de Olavo Bilac), composto sob encomenda de Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro.

sábado, 13 de novembro de 2010

Saudades do Matão - 1904

Para quem pensa que "Saudade do matão" é uma música sertaneja e é recente, aqui está: "Saudade do Matão" é de 1904 e é uma valsa e não música sertaneja. Par auqem não a conhece, consegui a gravação de 1941, na voz de Carlos Galhardo">

Saudades de Matão (valsa, 1904) - Jorge Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres

Neste mundo eu choro a dor / Por uma paixão sem fim
Ninguém conhece a razão / Porque eu choro tanto assim
Quando lá no céu surgir / Uma peregrina flor
Pois todos devem saber / Que a sorte me tirou foi uma grande dor
Lá no céu junto a Deus / Em silêncio minh’alma descansa
E na terra, todos cantam
Eu lamento minha desventura nesta grande dor
Ninguém me diz / Que sofreu tanto assim
Esta dor que me consome / Não posso viver / Quero morrer
Vou partir prá bem longe daqui
Já que a sorte não quis / Me fazer feliz.

Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Retirado de Cifra Antiga

domingo, 7 de novembro de 2010

Lundu

"Iaiá você quer morrer
Quando morrer, morramos juntos
Que eu quero ver como cabem
Numa cova dois defuntos"

(Isto É Bom, lundu de Xisto Bahia)

O lundu surgiu da fusão de elementos musicais de origens branca e negra, tornando-se o primeiro gênero afro-brasileiro da canção popular. Realmente, essa interação de melodia e harmonia de inspiração européia com a rítmica africana se constituiria em um dos mais fascinantes aspectos da música brasileira. Situado, pois, nas raízes de formação dos nossos gêneros afros, processo que culminaria com o advento do samba, o lundu foi originalmente uma dança sensual praticada por negros e mulatos em rodas de batuque, só se fixando como canção no final do século XVIII. Assim, a referência mais remota encontrada sobre o lundu-música está na Viola de Lereno, coletânea de composições de Domingos Caldas Barbosa, publicada em Portugal em 1798.

Composto em compasso binário e na maioria das vezes no modo maior, o lundu é uma música alegre e buliçosa, de versos satíricos, maliciosos, variando bastante nos esquemas formais. Muitos de nossos compositores populares do século XIX fizeram lundus, pertencendo a esse repertório peças de grande popularidade como Lá no Largo da Sé (Cândido Inácio da Silva), Lundu da Marrequinha (Francisco Manoel da Silva, autor do Hino Nacional, e Francisco de Paula Brito), Eu Não Gosto de Outro Amor (Padre Teles) e Onde Vai, Senhor Pereira de Morais (Domingos da Rocha Mussurunga).

Mas o grande nome do lundu só surgiria no final do século XIX na figura do ator, cantor e compositor baiano Xisto Bahia (1841-1894), mais afamado do que Laurindo Rabelo (1826-1864), o Poeta Lagartixa, também cultor do gênero que o antecedeu nas rodas musicais do Rio de Janeiro. São de Xisto Bahia os lundus O Camaleão, Canto de Sururina, O Homem, O Pescador, A Preta Mina e o célebre Isto É Bom, música gravada no primeiro disco brasileiro. Com o aparecimento de outros gêneros afro-brasileiros mais expressivos, o lundu saiu de moda no começo do século XX.

Músicas

Os Beijos-de-Frade (Henrique Alves de Mesquita) – Banda dirigida por L.Gonzaga Carneiro
O Pescador (Xisto Bahia) – Maria Marta
Isto É Bom (Xisto Bahia) – Nara Leão
Lundu da Marrequinha (Francisco Manoel da Silva e Francisco de Paula Brito) – Orquestra Dirigida por Milton Calazans
Loirinha (José de Almeida e Martin Francisco Jr.) – Maria Marta
O Camaleão (Xisto Bahia) – Maria Marta
Lá no Largo da Sé (Cândido Inácio da Silva) – Orquestra Dirigida por Milton Calazans
Lundu Chorado (Nei Lopes) – Nei Lopes
Esta Noite (José Francisco Leal) – Andréa Daltro

Fonte: http://cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/lundu

Imagem: Johann Moritz Rugendas (1808/1858) - "Lundu", quadro pintado entre 1822 e 1825

Para Ouvir "Isto É Bom", de 1902: http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/isto-bom.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

1917 - Pelo Telefone




Pelo Telefone (samba, 1917) - Donga e Mauro de Almeida

O chefe da folia pelo telefone manda lhe avisar
Que com alegria não se questione para se brincar
O chefe da polícia pelo telefone manda lhe avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se brincar

- Ai, ai, ai,
- Deixa as mágoas para trás ó rapaz
- Ai, ai, ai,
- Fica triste se é capaz, e verás :

Tomara que tu apanhes
Pra nunca mais fazer isso
Tirar o amor dos outros
E depois fazer feitiço

Ai se a rolinha (Sinhô, sinhô)
Se embaraçou (Sinhô, sinhô)
É que a avezinha (Sinhô, sinhô)
Nunca sambou (Sinhô, sinhô)
Porque este samba (Sinhô, sinhô)
É de arrepiar (Sinhô, sinhô)
Põe perna bamba (Sinhô, sinhô)
E faz chorar

"Pelo Telefone" é considerado o primeiro samba feito no Brasil. No próximo post, falarei mais sobre ele.
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