terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Música Nos Anos 20

O que se produziu, no Brasil, em termos de música, nos Anos 20? O site Cifra Antiga, nos aponta o seguinte repertório:

1921 - Mimosa, de Leopoldo Fróes

Mimosa !
Tão delicada e melindrosa...
Mimosa !...Mimosa!
Mimosa!
Deus que te fez assim formosa
Tens o perfume de uma rosa
Mimosa! ... Mimosa!


1922 - Papagaio Come Milho, de Francisco Rocha e Tristeza do Jeca, de Angelino de Oliveira

Faço carinhos para quem não merece
Quem apanha, meu bem, não esquece (x2)
Ai! não fui eu que desmanchei a tua cama (x2)
Papagaio come milho, periquito leva a fama (x2)


Nestes versos tão singelos / Minha bela,
Meu amor / Pra você quero cantar o meu sofrer
E a minha dor / Eu sou que nem o sabiá
Quando canta é só tristeza / Desde galho onde ele está


1923 - Só Teu Amor,de Eduardo Souto

Só teu amor me traz tanta alegria
E é toda a causa do meu viver
Só nele penso de noite e de dia
Porque só ele me dá prazer


1924 - Pai Adão, de Eduardo Souto

O Pai Adão lá na sua inocência
Comeu maçã que comer não devia
E desta sua falada imprudência
Foi que nasceu toda a nossa alegria


1925 - De Cartola e Bengalinha, de Freire Júnior

Ela antigamente
Era tão sossegadinha
Hoje, ai minha gente
De cartola e bengalinha (x2)


1926 - Café Com Leite, de Freire Júnior

Nosso Mestre Cuca movimentou / O Brasil inteiro,
Pois cada um Estado pra cá mandou / O seu cozinheiro.
Mexeu-se a panela, fez-se a comida / Com perfeição.
Assim foi a bóia, bem escolhida / Com precaução

Café paulista, / Leite mineiro,
Nacionalista / Bem brasileiro.


1927 - Rapaziada do Brás, de Alberto Marino e Malandrinha, de Freire Júnior

Lembrar, deixem-me lembrar / meus tempos de rapaz no Brás
das noites de serestas / casais de namorados, e as cordas de um violão
cantando em tom plangente, / Aqueles ternos madrigais.
Sonhar, deixem-me sonhar, / lembrando aquele amor fugaz.


A lua vem surgindo cor de prata
No alto da montanha verdejante
A lira de um cantor em serenata
Reclama na janela a sua amante
Ao som da melodia apaixonada
Das cordas de um sonoro violão


1928 - A Voz do Violão, de Francisco Alves e Horácio Campos e Gosto Que Me Enrosco, de Sinhô

Não queiras, meu amor, saber da mágoa/Que sinto quando a relembrar-te estou
Atestam-te os meus olhos rasos d’água
A dor que a tua ausência me causou.


Não se deve amar sem ser amado
É melhor morrer crucificado!
Deus nos livre das mulheres de hoje em dia
Desprezam um homem
Só por causa da orgia!

Gosto que me enrosco de ouvir dizer
Que a parte mais fraca é a mulher
Mas o homem com toda a fortaleza
Desce da nobreza e faz o que ela quer!


1929 - Casa de Caboclo, de Chiquinha Gonzaga, Luiz Peixoto e Heckel Tavares, Jura, de José Barbosa da Silva (Sinhô) e Linda Flor, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto

Você tá vendo essa casinha simplesinha
Toda branca de sapê
Diz que ela véve no abandono não tem dono
E se tem ninguém não vê
Uma roseira cobre a banda da varanda
E num pé de cambuçá
Quando o dia se alevanta Virge Santa
Fica assim de sabiá


Jura, jura, jura pelo Senhor / Jura pela imagem
Da Santa Cruz do Redentor / Pra ter valor a tua...
Jura, jura, jura de coração / Para que um dia
Eu possa dar-te o amor / Sem mais pensar na ilusão


Ai Ioiô, eu nasci pra sofrer
Fui oiá prá você / Meus oinho fechô
E quando os oio eu abri
Quis gritá quis fugí
Mas você não sei porque, você me chamou


1930 - Trepa no Coqueiro, de Ary Kerner Veiga de Castro e Ta-Hi, de Joubert de Carvalho

Oi, trepa no coqueiro
Tira coco
Xipe, xipe, nheco, nheco
No coqueiro orirá
Oi, trepa coqueiro
Tira coco
Xipe, xipe, nheco, nheco
No coqueiro orirá


Tá-hi / Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh meu bem / Não faz assim comigo não
Você tem, você tem / Que me dar seu coração


Como você pode ver, poucas músicas que fizeram sucesso na década de 20 chegaram conhecidas à nossa época, com exceção de Gosto Que Me Enrosco, de 1928, entre outras:

sábado, 18 de dezembro de 2010

Resumão I (1901 a 1920)




O período 1901/1920 foi muito importante para a música. Foi nesse período que surgiu o Gramofone e o Disco, que apareceram as primeiras "lojas de discos" e os cantores começaram a se popularizar. Exemplo disso foi o sucesso de Enrico Caruso, e a venda de mais de um milhão de discos da música Carry Me Back To Old Virginny (1915).

Os nomes de destaque dessa época: Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Donga, Catulo da Paixão Cearense, Ernesto Nazareth, Enrico Caruso, W. C. Handy e Al Jolson.

Foi nesse período que nasceram grandes nomes da música, como Ary Barroso, Carmen Miranda, Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Viníciuas de Moraes, Dalva de Oliveira, Edith Piaf e Nat King Cole, entre outros...

Foi nessa época, também, que se firmaram o Blues, o Jazz e o Samba, nos EUA e no Brasil, influenciados pelos negros.

Foi nessa época que ocorreram a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e a Gripe Espanhola.

Foi nessa época que o mundo deixou para trás a Era Vitoriana e a Belle Époque, para entrar definitivamente no século XX...

E as músicas que mais marcaram esse período foram Pelo Telefone e Carinhoso, ambas de 1917. Também podemos citar Menphis Blues (1912, primeiro Blues) e Livery Stable Blues (1917, primeiro Jazz).

Quadro: "Samba", de Di Cavalcanti (1928)
Vídeo: Donga, cantando Pelo Telefone, na Record, em 1966, com Chico Buarque, Pixinguinha e Hebe Camargo

A Música no Brasil - 1916 a 1920


I - NOMES

Donga nasceu Ernesto Joaquim Maria dos Santos, no Rio de Janeiro, a 5 de abril de 1889, filho de pai pedreiro e tocador de bombardino, com a famosa Tia Amélia, do grupo das baianas da Cidade Nova, cantadeira de modinhas, festeira e mãe-de-santo. Desde menino freqüentava a casa de Tia Sadata, no bairro da Saúde, onde desfilou no Rancho Dois de Ouro como "porta-machado", figurante que abria o desfile brandindo um pequeno machado, em uma dança parecida com a capoeira. Passou a infância entre ex-escravos e negros baianos, dos quais aprendeu o jongo, o afoxé e outras danças populares que serviriam de base para sua carreira musical.
Começou a tocar cavaquinho, de ouvido, e passou para o violão em 1917, tomando aulas com o grande Quincas Laranjeiras. Iniciou-se na composição - Olhar de Santa e Teus Olhos Dizem Tudo (que anos depois teria letra de David Nasser) são dessa época quando já era freqüentador das reuniões na casa de Tia Ciata, ao lado de Bucy Moreira, João da Baiana, Pixinguinha, Sinhô, Caninha e outros.
Em tais reuniões nasceu Pelo Telefone, que Donga registrou como seu na Biblioteca Nacional, contestado pelo grupo que considerava a criação de caráter coletivo, por ser oriunda de partido-alto, em que todos improvisavam versos.
Influenciado por João Pernambuco, Donga faz parte do Grupo de Caxangá com o nome de guerra de Zé Vicente e, em 1919, convidado por Pixinguinha, integrou o conjunto Oito Batutas, de importância fundamental na história da música brasileira, estreando na sala de espera do cinema Palais.
Em janeiro de 1922 os Batutas se apresentam durante seis meses em Paris com o nome de "Les Batutas". Ao retornar, o grupo atuou ainda na Argentina, onde gravou uma série de discos na Victor daquele país, antes de dissolver-se. Donga passou a tocar violão-banjo, influência trazida da Europa, e em 1926 integrou o grupo Carlito Jazz para acompanhar a companhia francesa de revistas Ba-Ta-Clan, que se exibia no Rio de Janeiro. Com esse conjunto viajou outra vez à Europa e voltando em 1928 criou com Pixinguinha a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, eminentemente dançante responsável por gravações no selo Parlophon, da Odeon.
Em 1932 atuou nos grupos Guarda Velha e Diabos do Céu, formados por Pixinguinha para gravações. Nesse mesmo ano casou-se com a cantora Zaíra de Oliveira, com quem viveu até a morte desta em 1951. Em 1940 participou com composições suas da famosa gravaçao a bordo do navio Uruguai, feita por Leopold Stokowski, que colhia músicas sul-americanas para uma série de discos lançados nos Estados Unidos pela Columbia. Suas criações mais conhecidas - além de Pelo Telefone - são Passarinho Bateu Asas, Bambo de Bambu, Cantiga de Festa, Macumba de Oxóssi, Macumba de Iansã, Seu Mané Luís e Ranchinho Desfeito. Casou novamente em 1953 e morreu em 1974, no bairro de Aldeia Campista, para onde se retirou como oficial de Justiça aposentado.

Fonte: História do Samba - Ed.Globo in Cifra Antiga

II - COMPOSIÇÕES

1917 - Pelo Telefone - Donga e Mauro de Almeida; Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro);
1920 - Pé de Anjo - Sinhô

III - NASCIMENTOS

1917 - Dalva de Oliveira (Cantora);
1918 - Jacob do Bandolim (Bandolinista/Compositor);
1919 - Linda Batista (Cantora), Nelson Gonçalves (Cantor), Jackson do Pandeiro (Cantor/Compositor) e Blecaute (Cantor);
1920 - Carmen Costa (Cantora) e Elizeth Cardoso (Cantora)

IV - O QUE ACONTECIA

1916 - Nasceu Oscar, caçula da futura Carmen Miranda, que estava com 7 anos. Albert Einstein expôs sua Teoria da Relatividade, e terminaram as batalhas de Somme e Verdun, as mais sangrentas da Primeira Guerra.
1917 - Noel Rosa era um menino de 7 anos, e morava no bairro carioca de Vila Isabel. Lênin assumiu o poder da Rússia (Revolução Russa) e os EUA declararam guerra à Alemanha;
1918 - Ary Barroso, com 15 anos, fez sua primeira composição, o cateretê De Longe. Fim da Primeira Guerra e auge da Gripe Espanhola;
1919 - o pequeno José de Assis Valente, aos 8 anos de idade, já declamava poemas, em sua cidade natal (Santo Amaro da Purificação, Bahia). O Presidente Rodrigues Alves morreu vitimado pela Gripe Espanhola;
1920 - a certidão de nascimento de João Rubinato (futuro Adoniran Barbosa) foi adulterada, para que ele pudesse trabalhar (a idade mínima era 12 anos e ele tinha 10). O Brasil participou, pela primeira vez, de Jogos Olímpicos, em Antuérpia;

V - NOVIDADES

Nesse período, nasceram, nos EUA, três grandes nomes da música: Ella Fitzgerald e Dean Martin (1917) e Nat King Cole (1919). Mas a novidade, no Brasil, foi o surgimento do samba, que viria a ser o ritmo nacional...

VI - INTERNACIONAL

1916 - Roses Of Picardy - John McCormack
1917 - For Me & My Gal - Van & Schenck
1918 - Tiger Rag - Original Dixieland Jazz Band
1920 - You'd Be Surprised - Eddie Cantor

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Al Jolson (1886/1950)

Asa Yoelson nasceu na Lituânia, em 1886, e imigrou para os EUA em 1891. Sua mãe morreu em 1894, e logo ele estava cantando nas ruas, em troca de moedas, com seu irmão Hirsch.
Os dois mudaram seus nomes para "Al" e "Harry", e assim foram se mantendo...
Em 1902, já com 16 anos, "Al" começou a cantar num circo, cujo dono gostou de sua voz. Em 1903, ele passou a cantar no espetáculo Dainty Duchess Burlesquers, onde cantava Be My Baby Bumble Bee. Também trabalhava esporadicamente com seu irmão...
Em 1904, quando tinha 18 anos, Al passou a pintar a face de preto, obtendo enorme sucesso em suas apresentações.
Em 1905, os irmãos tiveram uma discussão, pois tinham um terceiro parceiro, Joe Palmer, que andava em cadeira de rodas. Harry não aceitou cuidar de Palmer, e afastou-se dos dois. Em 1906, Al e Palmer também se separaram.
Al passou a trabalhar sozinho, e viajou por todo o país, apresentando-se. Nessa época, casou-se com Henrietta.
Depois, ele retornou a New York, onde se tornou uma estrela, por volta de 1911. O show La Belle Paree teve 104 apresentações, e ele passou a ganhar 750 dólares por semana.
Depois ele apresentou The Whirl of Society, e o salário dele subiu para mil dólares semanais. Em 1916, com Robinson Crusoé, ele já ganhava 2 mil dólares semanais. Em 1918, ele apresentou Sinbad.
Em 1921, ele já tinha um teatro que levava seu nome (Jolson's Fifty-ninth Street Theatre). Tinha apenas 35 anos...
Ele cantava Swanee , My Mammy , Rock-A-Bye Your Baby With A Dixie Melody, e tudo virava sucesso...
Diziam que sua "blackface" era uma metáfora do sofrimento que negros e judeus tinham em comum...

Em 1927, Al Jolson cantou My Mammy no filme "O Cantor de Jazz", e entrou para a história, pois esse foi o primeiro filme sonoro da história, e ele entrou para a história...

Enquanto a Ku Klux Klan e Griffith exaltavam a supremacia branca, Al Jolson entrou para a história como negro...E exigia tratamento digno para cantores, músicos e dançarinos negros, que atuavam com ele.

De acordo com a St. James Enciclopédia da Cultura Popular : "Quase sozinho, Jolson ajudou a introduzir ritmos afro-americanos como, ragtime, jazz e blues para platéias brancas" .... e abriu caminho para artistas negros, como Louis Armstrong , Duke Ellington , Cab Calloway...

O historiador Amiri Baraka escreveu: "a entrada do homem branco no jazz ... ao menos ele trouxe muito mais próximo do negro ".

Em 1920, Al Jolson separou-se de Henrietta e em 1922 se casou com Alma Osbourne, mais conhecida como Ethel Delmar.

Em 1928, ele se casou com Ruby Keeler, e ficaram casados até 1939. Em 1945, ele se casou com a enfermeira Erle Galbraith. Morreu em 1950.

Al Jolson é considerado o "Rei do Jazz", assim como Elvis Presley é chamado de "O Rei do Rock"...

sábado, 11 de dezembro de 2010

1910 - Centenário de Noel Rosa - 2010

Noel de Medeiros Rosa nasceu no Rio de janeiro em 11 de dezembro de 1910. Exatamente hoje ele estaria completando cem anos de nascimento...
Noel Rosa é considerado um dos maiores artistas do Brasil. Foi sambista, cantor, compositor, bandolinista e violonista, e tudo isso em apenas 27 anos de vida. Pois é...ele morreu aos 27 anos, em 1937, e já consagrado como um dos "grandes"...Imaginemos o que teria acontecido se ele tivesse tido mais 20 ou 30 anos de existência...
Ele foi um dos maiores responsáveis em trazer o samba dos morros para o asfalto, isto é, para as rádios e para os ouvidos da classe média. Dessa forma, ele contribuiu para que o samba não ficasse restrito às classes humildes, e conquistasse como música nacional.
O parto do bebê Noel Rosa foi difícil, feito com fórceps e ele ainda teve problemas com o desenvolvimento da mandíbula, provavelmente Síndrome de Pierre-Robin. Por isso a aparência de pessoa sem queixo.
Sendo de classe média, Noel teve ao seu alcance a carreira de médico. Mas preferia passar as noites pelos bares, bebendo cerveja, fumando muito, tocando bandolim e outros instrumentos que aprendeu a tocar.
Em 1929, ele arriscou a fazer suas primeiras composições, mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com a música "Com Que Roupa?":

Agora vou mudar minha conduta, Eu vou pra luta,
Pois eu quero me aprumar, Vou tratar você com a força bruta
Pra pode me reabilitar, Pois esta vida não ta sopa
E eu pergunto: com que roupa, Com que roupa, que eu vou,
Pro samba que você me convidou?


Em 1931 ele compôs Gago Apaixonado, que fez sucesso por fazer uma declaração como se fosse um gago de verdade.
Em 1932 compôs Adeus e Uma Jura Que Fiz.
Em 1933 compôs Quem Não Quer Sou Eu, Fita Amarela e Feitio de Oração.
Em 1934 compôs Feitiço da Vila e O Orvalho Vem Caindo.
E em 1935, uma de suas obras primas: Conversa de Botequim, que trata de um cliente que além de não pagar a conta, ainda fica incomodando o garçom:

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol
Se você ficar limpando a mesa
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro,
Um envelope e um cartão,
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas,
Um isqueiro e um cinzeiro
Seu garçom faça o favor de me trazer depressa...
Telefone ao menos uma vez
Para três quatro quatro três três três
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empresta algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro,
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure esta despesa
No cabide ali em frente
Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol


Noel compôs com Lamartine Babo, Ismael Silva, Francisco Alves e João de Barro, entre outros, em mais de trezentas composições.



*** quando eu era criança, ouvi, certa vez, uma música, que me chamou a atenção...Estávamos na praia e tínhamos somente um rádio para se distrair, à noite. De repente, aquela música começou a me chamar a atenção, pois falava em morte. Não sei porque, mas gravei aqueles versos, sem saber que estava "gravando na mente", um sucesso de Noel Rosa, Fita Amarela...A letra era assim: Quando eu morrer, não quero choro, nem velas, quero uma fita amarela, gravada com o nome dela...Devia ter uns 7, 8 anos de idade...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Música no Brasil - 1911 a 1915

I - Nomes

Ernesto Júlio de Nazareth nasceu no Rio de Janeiro, em 1863 e é considerado um dos maiores nomes do choro ou "tango brasileiro". Suas obras mais conhecidas são "Odeon" (1910, tango), "Ameno Resedá" (1912, polca), "Apanhei-te Cavaquinho" (1915, polca), entre outras...Faleceu em 1934, deixando mais de 200 composições...

II - Compsições

1911 - Lua Branca - Chiquinha Gonzaga
1914 - Luar do Sertão - Catulo da Paixão Cearense
1915 - Apanhei-te Cavaquinho - Ernesto Nazareth

III - Nascimentos

1911 - Assis Valente (Compositor) e Mário Lago (Ator/Compositor)
1912 - Herivelto Martins (Compositor) e Luiz Gonzaga (Compositor/Cantor/Acordeonista)
1913 - Carlos Galhardo (Cantor), Ciro Monteiro (Cantor) e Vinícius de Moraes (Cantor/Compositor)
1914 - Dorival Caymmi (Cantor/Compositor), Araci de Almeida (Cantora), Lupicínio Rodrigues (Compositor) e Aloysio de Oliveira (Cantor/Compositor)
1915 - Aurora Miranda (Cantora), Orlando Silva (Cantor) e Edith Piaf (Cantora francesa)

IV - O Que Acontecia

1911 - Ary Barroso era um menino mineiro (8 anos) e devia estar estudando na Escola Pública Guido Solero, em Ubá;
1912 - O Titanic afundou, em sua primeira viagem, no Atlântico Norte;
1913 - Carmen Miranda era uma menina de 4 anos. Morava no Rio de Janeiro com seus pais, José e Maria, e seus irmãos Olinda, Amaro e Cecília (Aurora nasceria em 1915 e Oscar em 1916);
1914 - Chiquinha Gonzaga, então com 67 anos, foi ao Palácio do Catete, residência do Presidente Hermes da Fonseca. Lá, num recital, apresentou sua música, "Corta Jaca", sendo acompanhada pela primeira-dama, Nair de Teffé, ao violão. No dia seguinte, os jornais criticaram essa "ousadia" ("mulher de família não tocava violão"). Nesse ano, começava a Primeira Guerra Mundial, na Europa...
1915 - O disco com a música "Carry Me To Old Virginia" ("Leve-me de Volta à Velha Virgínia"), com Alma Glück, é o primeiro a ultrapassar a marca de 1 milhão de discos vendidos...

V - Novidades

É prensado pela primeira vez um disco no Brasil. O fato marca o início das atividades da Fábrica Odeon, instalada no Rio de Janeiro (RJ).

VI - Internacionais

1910 - Chinatown, My Chinatown - American Quartet
1911 - Memphis Blues - W. C. Handy
1912 - Love Is Mine - Enrico Caruso
1913 - You Made Me Love You - Al Jolson
1914 - Saint Louis Blues - W. C. Handy
1915 - Carry Me Back To Old Virginny - Alma Glück

sábado, 4 de dezembro de 2010

W.C. Handy - Memphis Blues

William Christopher Handy, ou W.C. Handy, o "Pai do Blues", nasceu em 1873, no Alabama (EUA).
Na juventude, Handy criou o Quarteto Lauzetta, que viajou para Chicago e depois para Saint Louis. Lá, o Quarteto foi dissolvido, e Handy foi para Indiana e depois para o Kentucky. Lá, ele conheceu Elizabeth Price, com quem se casou, em 1896. Depois, retornaram ao Alabama, onde ele se tornou maestro de uma banda local.
Em 1900, nasceu sua primeira filha, Lucille (ele teria mais 5). Viajou muito, lecionou música e, em 1909, mudou-se para Memphis, no Tennessee.
Em 1912, Handy publicou sua música "Memphis Blues", que é considerada por muitos, o "primeiro blues"...
Em 1914, foi a vez de "Saint Louis Blues", outra de suas músicas mais conhecidas, ser publicada.
W. C. Handy morreu em 1958. Abaixo, ouça "Memphis Blues":


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Work Songs Africanas

O mapa acima mostra o fluxo de escravos entre 1800 e 1866 (Século XIX). Na verdade, o tráfico de escravos negros começou no século XVI, 300 anos antes...
Durante mais de 300 anos, milhões de negros foram capturados na África e trazidos para a América, na condição de escravos. O Brasil, a América Central e até os Estados Unidos, receberam esses negros, que vinham trabalhar obrigatoriamente, sem receber nada em troca, e ainda sofrendo maus-tratos e humilhações, para ser o mais "bondoso" possível...
Esse fato não tem nada de honrado e belo. Bela, sim, é a cultura negra, que mesmo sob o jugo dos "senhores" europeus, sobreviveu, e dura até hoje, seja em palavras faladas, alimentação, e gostos musicais...
No nosso caso específico, a música, podemos citar diversos ritmos trazidos da África, como o lundu, que evoluiu para o samba, no Brasil...

Nos Estados Unidos, os negros escravos cantavam "canções de trabalho" ("work songs") enquanto trabalhavam. Essas canções consistiam num sistema de "chamada e resposta", onde uma pessoa cantava um verso, e os demais davam uma "resposta" a ele...Veja o vídeo que mostra uma "work song":



Foi dessas "work songs" que nasceu o Blues...

sábado, 27 de novembro de 2010

Ontem Ao Luar/Choro E Poesia

Ontem ao Luar - Por sua semelhança com a canção "Love Story", do filme homônimo, a polca "Choro e Poesia" voltou a ser sucesso na década de 1970. Esse retorno rendeu-lhe mais de dez gravações, só que com um detalhe: todas traziam apenas o título "Ontem ao Luar", que recebeu de Catulo da Paixão Cearense quando, em 1913, o poeta lhe pôs uma letra, à revelia do autor.
E o que é pior, várias dessas gravações tal como edições da partitura, somente registravam o nome de Catulo, omitindo o de Pedro de Alcântara.
Em 1976, graças aos esforços de uma neta de Alcântara, sua autoria foi restabelecida através de uma decisão judicial. "Choro e Poesia" tem duas partes, ambas construídas com variações de um mesmo motivo, usado com muita engenhosidade especialmente na segunda parte, em tom maior.

Ontem ao Luar (Choro e Poesia) (polca, 1907) - Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense

Ontem ao luar / Nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste
O que era a dor de uma paixão
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas fitando o azul / Do azul do céu a lua azul
Eu te mostrei, mostrando a ti os olhos meus
Correr sem ti uma nívea lágrima e assim te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver a lágrima
Dos olhos a sofrer


A dor da paixão, não tem explicação
Como definir o que só sei sentir
É mister sofrer, para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta ao luar, do mar a canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão


Se tu desejas saber o que é o amor e sentir
O seu calor o amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe o monte a beira mar ao luar
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão do calado coração
A pena a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal / A dor silente universal
E a dor maior que é a dor de Deus


Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão
Porque ele vive assim tão triste a suspirar
A palpitar em desesperação
Na teima de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora Publifolha e A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/ontem-ao-luar-choro-e-poesia.html

Dicionário

nívea - da cor da neve
mister - necessário
taful - brincalhão
amaríssimo - muito amargo
travor - que trava, prende
dulçor - de doce
lacrimar - derramar lágrimas, chorar
perenal - que não para
silente - silenciosa
rósea - rosada
merencória - triste
sepulcro - túmulo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Música no Brasil - 1906 a 1910


Dando continuidade ao post sobre música do início do século, vamos fazer uma "viagem" à segunda metade da primeira década do século XX...

I - Nomes

Nascido em 1863, Catulo da Paixão Cearense completou 38 anos em 1901, quando começou o século XX. Apesar de ter a palavra "Cearense" no nome, ele era de São Luís do Maranhão. Seu pai, Amâncio José Paixão Cearense é que era do Ceará...
Desde 1880, ele passou a morar no Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como relojoeiro. Mas conheceu vários chorões, fez muitos cordéis e modinhas, chegando a compor com Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, entre outros.
Em 1906, compôs "Os Olhos Dela", com Irineu de Almeida e "Três Estrelinhas", com Anacleto de Medeiros e em 1907 compôs "Choro e Poesia", com Pedro de Alcântara e "Iara", com Anacleto de Medeiros. Mas, sem dúvida, sua música mais famosa é "Luar do Sertão", de 1914, que compôs em associação com João Pernambuco...

Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão...


II - Composições

1906 - "Casinha Pequenina" (Autor Desconhecido)
1907 - "Choro & Poesia"/"Ontem ao Luar" (Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense)
1910 - "Odeon" (Ernesto Nazareth)

III - Nascimentos

1907 - Mário Reis (Cantor)
1908 - Sílvio Caldas (Cantor/Compositor) e Cartola (Compositor)
1909 - Carmen Miranda (Cantora) e Ataulfo Alves (Cantor e Compositor)
1910 - Adoniran Barbosa (Compositor), Nelson Cavaquinho (Compositor) e Noel Rosa (Compositor)

IV - Novidades

A novidade, nesse caso, estava acontecendo longe do Brasil, mais precisamente nos EUA: em 1890, nasceu o Jazz, um dos ritmos mais conhecidos no mundo, desde então...Mas o primeiro disco de Jazz é de 1917, e a música chamava-se "Livery Stable Blues"

V - Vídeo

"Ontem Ao Luar", música de 1907, na voz de Marcelo Coutinho:






sábado, 20 de novembro de 2010

A Música no Brasil - 1901 a 1905


Como era o cenário musical do Brasil, entre 1901 e 1905? Vamos tentar imaginar...

I - NOMES

Em 1901, quando iniciava o século XX, Francisca Edwiges Neves Gonzaga completou 54 anos. Nascida em 1847, ela já tinha muito o que contar: seu pai era general do Exército e sua mãe era uma mulata humilde, sendo que seu padrinho foi o Duque de Caxias. Estudou mais do que muitas moças de sua época, mas adorava ritmos africanos como o lundu, que não eram bem aceitos nas "casas de família".
Aos 11 anos fez sua primeira composição ("Canção dos Pastores") e aos 16 teve que casar com o oficial da Marinha Jacinto Ribeiro do Amaral, conforme escolha do pai militar. Com ele, teve três filhos: João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário). Mas o casamento não deu certo, porque ele vivia a serviço e a proibia de compor. Assim, Francisca abandonou o marido, perdendo a guarda dos filhos mais novos.
Aos 20 anos, foi viver com o engenheiro João Batista de Carvalho, com quem teve a filha Alice Maria. Mas ele a traía muito, e Francisca também o abandonou, perdendo a guarda da filha.
Assim, ela foi viver de fazer música, enfrentando o preconceito da época ("mulher separada", "criando filho sozinha", vivendo de música") e fazendo o que gostava: dava aulas de piano e compunha suas músicas.
Aos 52 anos, Chiquinha Gonzaga conheceu João Batista Fernandes Lage, por quem se apaixonou e com quem foi viver. O detalhe é que ele tinha 16 anos. Assim, foram morar em Lisboa, Portugal, durante alguns anos. E ela viveria com ele até a sua morte, em 1935...

II - COMPOSIÇÕES

1901 - "Ó Abre Alas" (Chiquinha Gonzaga);
1902 - "Isto É Bom" (Xisto Bahia);
1904 - "Corta-Jaca" (Chiquinha Gonzaga) e "Saudades de Matão" (Jorge Galati);

III - NASCIMENTOS

1902 - Clementina de Jesus (cantora)
1903 - Ary Barroso (compositor);
1904 - Lamartine Babo (compositor)
1905 - Bidu Sayão (cantora) e Ismael Silva (compositor);

IV - NOVIDADES

Frederico Figner (1866/1947), nasceu na Boêmia (Tchecoslováquia) e emigrou para os Estados Unidos, e depois para o Brasil, com apenas 15 anos (1891). Ele foi o primeiro a viajar pelo Brasil, mostrando a todos o que era um fonógrafo.
Depois, fixou-se no Rio de Janeiro, onde abriu, em 1902, a Casa Édison, a primeira gravadora comercial do brasil.
Em 1902, Xisto Bahia compôs o lundu "Isto É Bom", que foi gravado num disco de cera de carnaúba, o Zono-o-Phone 10.001, tornando-se o primeiro disco gravado no Brasil.



V - NO EXTERIOR

Em 1902, o tenor italiano Enrico Caruso (1873/1921) gravou seu primeiro disco, tornando-se mundialmente famoso e ajudando a popularizar os gramofones e os discos. Pode-se dizer que ele foi o primeiro "astro popular" da música.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

19 de Novembro - Dia da Bandeira



19/11/1905: É executado pela primeira vez o “Hino à Bandeira” (música de Francisco Braga, letra de Olavo Bilac), composto sob encomenda de Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro.

sábado, 13 de novembro de 2010

Saudades do Matão - 1904

Para quem pensa que "Saudade do matão" é uma música sertaneja e é recente, aqui está: "Saudade do Matão" é de 1904 e é uma valsa e não música sertaneja. Par auqem não a conhece, consegui a gravação de 1941, na voz de Carlos Galhardo">

Saudades de Matão (valsa, 1904) - Jorge Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres

Neste mundo eu choro a dor / Por uma paixão sem fim
Ninguém conhece a razão / Porque eu choro tanto assim
Quando lá no céu surgir / Uma peregrina flor
Pois todos devem saber / Que a sorte me tirou foi uma grande dor
Lá no céu junto a Deus / Em silêncio minh’alma descansa
E na terra, todos cantam
Eu lamento minha desventura nesta grande dor
Ninguém me diz / Que sofreu tanto assim
Esta dor que me consome / Não posso viver / Quero morrer
Vou partir prá bem longe daqui
Já que a sorte não quis / Me fazer feliz.

Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Retirado de Cifra Antiga

domingo, 7 de novembro de 2010

Lundu

"Iaiá você quer morrer
Quando morrer, morramos juntos
Que eu quero ver como cabem
Numa cova dois defuntos"

(Isto É Bom, lundu de Xisto Bahia)

O lundu surgiu da fusão de elementos musicais de origens branca e negra, tornando-se o primeiro gênero afro-brasileiro da canção popular. Realmente, essa interação de melodia e harmonia de inspiração européia com a rítmica africana se constituiria em um dos mais fascinantes aspectos da música brasileira. Situado, pois, nas raízes de formação dos nossos gêneros afros, processo que culminaria com o advento do samba, o lundu foi originalmente uma dança sensual praticada por negros e mulatos em rodas de batuque, só se fixando como canção no final do século XVIII. Assim, a referência mais remota encontrada sobre o lundu-música está na Viola de Lereno, coletânea de composições de Domingos Caldas Barbosa, publicada em Portugal em 1798.

Composto em compasso binário e na maioria das vezes no modo maior, o lundu é uma música alegre e buliçosa, de versos satíricos, maliciosos, variando bastante nos esquemas formais. Muitos de nossos compositores populares do século XIX fizeram lundus, pertencendo a esse repertório peças de grande popularidade como Lá no Largo da Sé (Cândido Inácio da Silva), Lundu da Marrequinha (Francisco Manoel da Silva, autor do Hino Nacional, e Francisco de Paula Brito), Eu Não Gosto de Outro Amor (Padre Teles) e Onde Vai, Senhor Pereira de Morais (Domingos da Rocha Mussurunga).

Mas o grande nome do lundu só surgiria no final do século XIX na figura do ator, cantor e compositor baiano Xisto Bahia (1841-1894), mais afamado do que Laurindo Rabelo (1826-1864), o Poeta Lagartixa, também cultor do gênero que o antecedeu nas rodas musicais do Rio de Janeiro. São de Xisto Bahia os lundus O Camaleão, Canto de Sururina, O Homem, O Pescador, A Preta Mina e o célebre Isto É Bom, música gravada no primeiro disco brasileiro. Com o aparecimento de outros gêneros afro-brasileiros mais expressivos, o lundu saiu de moda no começo do século XX.

Músicas

Os Beijos-de-Frade (Henrique Alves de Mesquita) – Banda dirigida por L.Gonzaga Carneiro
O Pescador (Xisto Bahia) – Maria Marta
Isto É Bom (Xisto Bahia) – Nara Leão
Lundu da Marrequinha (Francisco Manoel da Silva e Francisco de Paula Brito) – Orquestra Dirigida por Milton Calazans
Loirinha (José de Almeida e Martin Francisco Jr.) – Maria Marta
O Camaleão (Xisto Bahia) – Maria Marta
Lá no Largo da Sé (Cândido Inácio da Silva) – Orquestra Dirigida por Milton Calazans
Lundu Chorado (Nei Lopes) – Nei Lopes
Esta Noite (José Francisco Leal) – Andréa Daltro

Fonte: http://cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/lundu

Imagem: Johann Moritz Rugendas (1808/1858) - "Lundu", quadro pintado entre 1822 e 1825

Para Ouvir "Isto É Bom", de 1902: http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/isto-bom.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

1917 - Pelo Telefone




Pelo Telefone (samba, 1917) - Donga e Mauro de Almeida

O chefe da folia pelo telefone manda lhe avisar
Que com alegria não se questione para se brincar
O chefe da polícia pelo telefone manda lhe avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se brincar

- Ai, ai, ai,
- Deixa as mágoas para trás ó rapaz
- Ai, ai, ai,
- Fica triste se é capaz, e verás :

Tomara que tu apanhes
Pra nunca mais fazer isso
Tirar o amor dos outros
E depois fazer feitiço

Ai se a rolinha (Sinhô, sinhô)
Se embaraçou (Sinhô, sinhô)
É que a avezinha (Sinhô, sinhô)
Nunca sambou (Sinhô, sinhô)
Porque este samba (Sinhô, sinhô)
É de arrepiar (Sinhô, sinhô)
Põe perna bamba (Sinhô, sinhô)
E faz chorar

"Pelo Telefone" é considerado o primeiro samba feito no Brasil. No próximo post, falarei mais sobre ele.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pixinguinha


Alfredo da Rocha Viana Filho, conhecido como Pixinguinha, (1897/1973) foi um flautista, saxofonista, compositor, e arranjador brasileiro.
Pixinguinha é considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva.
Era filho do músico Alfredo da Rocha Viana, funcionário dos correios, flautista e que possuía uma grande coleção de partituras de choros antigos. Pixinguinha aprendeu música em casa, fazendo parte de uma família com vários irmãos músicos, entre eles o China (Otávio Viana). Foi ele quem obteve o primeiro emprego para o garoto, que começou a atuar em 1912 em cabarés da Lapa e depois substituiu o flautista titular na orquestra da sala de projeção do Cine Rio Branco. Nos anos seguintes continuou atuando em salas de cinema, ranchos carnavalescos, casas noturnas e no teatro de revista.
Pixinguinha integrou o famoso grupo Caxangá, com Donga e João Pernambuco. A partir deste grupo, foi formado o conjunto Oito batutas, muito ativo a partir de 1919. Na década de 1930 foi contratado como arranjador pela gravadora RCA Victor, criando arranjos celebrizados na voz de cantores como Francisco Alves ou Mário Reis. No fim da década foi substituído na função por Radamés Gnattali. Na década de 1940 passou a integrar o regional de Benedito Lacerda, passando a tocar o saxofone tenor. Algumas de suas principais obras foram registradas em parceria com o líder do conjunto, mas hoje se sabe que Benedito Lacerda não era o compositor, mas pagava pelas parcerias.
Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados alguns dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz, enquanto hoje em dia podem ser vistas como avançadas demais para a época. Além disso, "Carinhoso" na época não foi considerado choro, e sim uma polca. Outras composições, entre centenas, são "Rosa", "Vou Vivendo", "Lamentos", "1 x 0", "Naquele Tempo" e "Sofres Porque Queres".
No dia 23 de abril comemora-se o Dia Nacional do Choro, trata-se de uma homenagem ao nascimento de Pixinguinha. A data foi criada oficialmente em 4 de setembro de 2000, quando foi sancionada lei originada por iniciativa do bandolinista Hamilton de Holanda e seus alunos da Escola de Choro Raphael Rabello.
Pixinguinha faleceu na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, quando seria padrinho de um batizado. Foi enterrado no Cemitério de Inhaúma.

Chorinhos e Chorões

O Choro, popularmente chamado de chorinho, é um gênero musical, uma música popular e instrumental brasileira, com mais de 130 anos de existência. Os conjuntos que o executam são chamados de regionais e os músicos, compositores ou instrumentistas, são chamados de chorões. Apesar do nome, o gênero é em geral de ritmo agitado e alegre, caracterizado pelo virtuosismo e improviso dos participantes, que precisam ter muito estudo e técnica, ou pleno domínio de seu instrumento. O choro é considerado a primeira música popular urbana típica do Brasil e difícil de ser executado.
O conjunto regional é geralmente formado por um ou mais instrumentos de solo, como flauta, bandolim e cavaquinho, que executam a melodia. O cavaquinho faz o centro do ritmo e um ou mais violões e o violão de 7 cordas formam a base do conjunto, além do pandeiro como marcador de ritmo.
Surgiu provavelmente em meados de 1870, no Rio de Janeiro, e nesse início era considerado apenas uma forma abrasileirada dos músicos da época tocarem os ritmos estrangeiros, que eram populares naquele tempo, como os europeus xote, valsa e principalmente polca, além dos africanos como o lundu. O flautista Joaquim Calado é considerado um dos criadores do Choro, ou pelo menos um dos principais colaboradores para a fixação do gênero, quando incorporou ao solo de flauta, dois violões e um cavaquinho, que improvisavam livremente em torno da melodia, uma característica do Choro moderno, que recebeu forte influência dos ritmos que no início eram somente interpretados, demorando algumas décadas para ser considerado um gênero musical.
Alguns dos chorões mais conhecidos são Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Alguns dos choros mais famosos são
"Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu
"Brasileirinho", de Waldir Azevedo
"Noites Cariocas", de Jacob do Bandolim
"Carinhoso" e "Lamento" de Pixinguinha
"Odeon", de Ernesto Nazareth
Dentre as composições de Heitor Villa-Lobos, o ciclo dos Choros é considerado a mais significativa. O chorão mais conhecido e ativo na atualidade é o virtuoso flautista e compositor Altamiro Carrilho, que já se apresentou em mais de 40 países
difundindo o gênero.

Vídeo: Marisa Monte e Paulinho da Viola executando "Carinhoso", de Pixinguinha.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ernesto Nazareth

"Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira", disse o compositor francês Darius Milhaud sobre Ernesto Nazareth, carioca que fixou o "tango brasileiro" e outros gêneros musicais do Rio de Janeiro de seu tempo. Ernesto Júlio de Nazareth nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 20 de março de 1863, e estudou música com os professores Eduardo Madeira e Lucien Lambert. Intérprete constante de suas próprias composições, apresentava-se como "pianeiro em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais. Entre 1920 e 1924, muitos personagens ilustres iam ao cinema Odeon apenas para ouvi-lo. Compunha, lecionava e vivia do piano. Suas partituras era vendidas aos milhares, mas não lhe garantiam a sobrevivência, pela falta de ordenamento dos direitos autorais. Em 14 de julho de 1886, casou-se com Teodora Amália de Meireles, e a ela dedicou a valsa Dora, inédita até então.

Brejeiro, composto em 1893, uma de suas composições mais famosas, é considerado o marco do tango brasileiro. Em razão de dificuldades financeiras, Nazareth vendeu os direitos dessa peça para a Editora Fontes e Cia. por 50.000 réis, o qual chegou a ser gravado pela banda da Guarda Republicana de Paris. Embora tenha composto obras as quais denominou de tango-brasileiro, Nazareth fazia uma diferenciação entre o choro e o tango-brasileiro, esta por ele considerada música pura. Seus tangos-brasileiros têm a indicação metronômica de M.M. semínima igual a 80 batidas, já no choro, a indicação é de 100 batidas. Para mostrar essa diferença, Nazareth compôs o choro Apanhei-te cavaquinho. Foi uma das únicas composições que ele considerou como choro. O mesmo entendimento tinham Chiquinha Gonzaga, Antonio Calado, Alexandre Levy e outros.

Em 1898 realizou seu primeiro concerto no salão nobre da Intendência de Guerra, por iniciativa do Clube São Cristovão, do Rio de Janeiro. Trabalhou no Tesouro Nacional, como escriturário. Em 1917 morre sua filha, Maria de Lourdes, considerado o primeiro abalo dos inúmeros pelos quais passou em sua vida. Nesse mesmo ano, atuou como pianista na sala de espera do Cine Odeon, que foi por ele inaugurado. As pessoas lotavam para ouvi-lo tocar, mais do que propriamente para ver o filme. Em 1910 já compusera o tango-brasileiro Odeon, inspirado naquele cinema. Em 1919 começou a trabalhar na Casa Carlos Gomes (mais tarde Carlos Wehrs). Executava as partituras que os fregueses se interessavam em comprar.

Compôs fox-trots, sambas e até marchas de carnaval, por um breve período, em 1920. Em 1922 interpretou Brejeiro, Nene, Bambino e Turuna no Instituto Nacional de Música, por iniciativa de Luciano Gallet. Participou como pianista, em 1923 da inauguração da Rádio M.E.C. (antiga Rádio Sociedade do Rio de Janeiro). Durante quase todo o ano de 1926 apresentou-se em São Paulo, capital e interior. Seus admiradores se uniram e deram-lhe um piano italiano de cauda Sanzin, que faz parte do acervo do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, Mário de Andrade fez uma conferência sobre sua obra na Sociedade de Cultura Artística, de São Paulo, SP. Retornou ao Rio de Janeiro em 1927, já apresentando sinais da surdez. Em 1929, morre sua mulher, o que lhe provocou profundo abalo.

Gravou para a fábrica Odeon, em 1930, o tango-brasileiro Escovando e o choro Apanhei-te Cavaquinho. Em 1932, fez várias excursões, principalmente para o sul do Brasil. Com o agravamento da surdez, tocava debruçado sobre o piano para conseguir ouvir sua própria música. Em 1933, apresentou graves perturbações mentais e foi internado no Instituto Neurosifilis da Praia Vermelha, sendo posteriormente transferido para a Colônia Juliano Moreira.

No ano seguinte fugiu e foi encontrado, 4 dias depois, afogado em uma represa. Há uma lenda segundo a qual ele teria sido encontrado morto debaixo de uma cachoeira. A sua postura era impressionante. Estava sentado, com a água lhe correndo por cima, com as mãos estendidas, como se estivesse tocando algum choro novo, que nunca mais poderemos ouvir... (Juvenal Fernandes, in Ernesto Nazareth, Antologia, Ed. Arthur Napoleão Ltda. AN-2087/88). Dele, disse Villa-Lobos: "Suas tendencias eram francamente para a composição romântica, pois Nazareth era um fervoroso entusiasta de Chopin." Querendo compor à maneira do mestre polonês e não possuindo a capacidade necessária para uma perfeita assimilação técnica, fez, sem o querer, coisa bem diferente e que nada mais é do que o incontestável padrão rítmico da música social brasileira. De qualquer maneira, Nazareth é uma das mais notáveis figuras da nossa música.

Entre os grandes admiradores da obra e da atuação como intérprete de Ernesto Nazareth, citam-se Arthur Rubinstein, o russo Miercio Orsowspk, Schelling (que levou suas composições, exibindo-as nos Estados Unidos e Europa), Henrique Oswald e Francisco Braga. Serviu de tema e de inspiração a Luciano Gallet, Darius Milhaud, Enani Braga, Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone e Radamés Gnatalli.

Faz parte do repertório de Eudóxia de Barros, Arnaldo Rebelo, Homero Magalhães, Ana Stella Schic, Roberto Szidon e Artur Moreira Lima, cujas interpretações eruditas dão à sua obra uma nova dimensão. Maria Tereza Madeira (piano) e Pedro Amorim (bandolim), lançaram, em 1997 o CD Sempre Nazareth, pela Kuarup. Ainda nesse ano foi lançado o CD-Rom Ernesto Nazaré, o Rei do Choro (selo CD-Arte), com mais de 300 imagens do compositor, depoimentos, notas, discografia, músicas, além de um álbum com 11 partituras para piano das suas principais obras.

Ernesto Nazareth significa uma caso raro de ligação entre o erudito e o popular: não é um erudito, na acepção da palavra, nem é um compositor apenas popular. Ora se percebe em sua obra um toque chopiniano, especialmente nas valsas, ora a vibração de uma polca ou de um choro entranhados do espírito brasileiro.

Somente uma pequena parte das mais de 200 peças para piano compostas por Ernesto Nazareth foi gravada. Suas composições mais conhecidas são: Apanhei-te cavaquinho (clique para escutar o midi), Ameno resedá (polcas), Confidências, Coração que sente, Expansiva, Turbilhão de beijos (valsas), Bambino, Brejeiro, Odeon (clique para o midi) e Duvidoso (tangos brasileiros).

In: http://cifrantiga3.blogspot.com/

Vídeo: Abertura da Novela "A Sucessora" (1978/1979), da Rede Globo, com a música "Odeon" na voz de Nara Leão (música de Ernesto Nazareth e letra de Vinícius de Moraes).

Ernesto Nazareth e Odeon

Enesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacó do Bandolim.

O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon". Obra-prima no gênero, este tango é apenas mais uma das inúmeras peças de Nazareth em que "melodia, harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão", como opina o pianista-musicólogo Aloysio de Alencar Pinto.


"Odeon" é dedicado à empresa Zambelli & Cia., dona do cinema homenageado no título, onde o autor tocou na sala de espera. Localizado na Avenida Rio Branco 137, possuía duas salas de projeção e considerado um dos "mais chics cinematógraphos do Rio de Janeíro". Em 1968, a pedido de Nara Leão, Vinícius de Moraes fez uma letra para "Odeon":

Ai, quem me dera / O meu chorinho / Tanto tempo abandonado / E a melancolia que eu sentia / Quando ouvia / Ele fazer tanto chorar / Ai, nem me lembro / Há tanto, tanto / Todo o encanto / De um passado / Que era lindo / Era triste, era bom / Igualzinho a um chorinho/ Chamado Odeon.

Terçando flauta e cavaquinho / Meu chorinho se desata / Tira da canção do violão / Esse bordão / Que me dá vida / Que me mata / É só carinho / O meu chorinho / Quando pega e chega / Assim devagarzinho / Meia-luz, meia-voz, meio tom / Meu chorinho chamado Odeon

Ah, vem depressa / Chorinho querido, vem / Mostrar a graça / Que o choro sentido tem / Quanto tempo passou / Quanta coisa mudou / Já ninguém chora mais por ninguém / Ah, quem diria que um dia / Chorinho meu, você viria / Com a graça que o amor lhe deu / Pra dizer "não faz mal / Tanto faz, tanto fez / Eu voltei pra chorar com vocês"

Chora bastante meu chorinho / Teu chorinho de saudade / Diz ao bandolim pra não tocar / Tão lindo assim / Porque parece até maldade / Ai, meu chorinho / Eu só queria / Transformar em realidade / A poesia / Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom / De um chorinho chamado Odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo / Eu até hoje ainda percebo essa ilusão / Essa saudade que vai comigo / E até parece aquela prece / Que sai só do coração / Se eu pudesse recordar / E ser criança / Se eu pudesse renovar / Minha esperança / Se eu pudesse me lembrar / Como se dança / Esse chorinho / Que hoje em dia Ninguém sabe mais.


Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34, in: http://cifrantiga3.blogspot.com/
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