segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ernesto Nazareth (1863/1934)




Ernesto Júlio de Nazareth nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 20 de março de 1863, e estudou música com os professores Eduardo Madeira e Lucien Lambert. Intérprete constante de suas próprias composições, apresentava-se como "pianeiro em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais. Entre 1920 e 1924, muitos personagens ilustres iam ao cinema Odeon apenas para ouvi-lo. Compunha, lecionava e vivia do piano. Suas partituras era vendidas aos milhares, mas não lhe garantiam a sobrevivência, pela falta de ordenamento dos direitos autorais. Em 14 de julho de 1886, casou-se com Teodora Amália de Meireles, e a ela dedicou a valsa Dora, inédita até então.

Brejeiro, composto em 1893, uma de suas composições mais famosas, é considerado o marco do tango brasileiro. Em razão de dificuldades financeiras, Nazareth vendeu os direitos dessa peça para a Editora Fontes e Cia. por 50.000 réis, o qual chegou a ser gravado pela banda da Guarda Republicana de Paris. Embora tenha composto obras as quais denominou de tango-brasileiro, Nazareth fazia uma diferenciação entre o choro e o tango-brasileiro, esta por ele considerada música pura. Seus tangos-brasileiros têm a indicação metronômica de M.M. semínima igual a 80 batidas, já no choro, a indicação é de 100 batidas. Para mostrar essa diferença, Nazareth compôs o choro Apanhei-te Cavaquinho (abaixo). Foi uma das únicas composições que ele considerou como choro. O mesmo entendimento tinham Chiquinha GonzagaAntonio Calado, Alexandre Levy e outros.




Em 1917 morre sua filha, Maria de Lourdes, considerado o primeiro abalo dos inúmeros pelos quais passou em sua vida. Nesse mesmo ano, atuou como pianista na sala de espera do Cine Odeon, que foi por ele inaugurado. As pessoas lotavam para ouvi-lo tocar, mais do que propriamente para ver o filme. Em 1910 já compusera o tango-brasileiro Odeon, inspirado naquele cinema. Em 1919 começou a trabalhar na Casa Carlos Gomes (mais tarde Carlos Wehrs). Executava as partituras que os fregueses se interessavam em comprar.

Compôs fox-trots, sambas e até marchas de carnaval, por um breve período, em 1920. Em 1922 interpretou Brejeiro, Nene, Bambino e Turuna no Instituto Nacional de Música, por iniciativa de Luciano Gallet. Participou como pianista, em 1923 da inauguração da Rádio M.E.C. (antiga Rádio Sociedade do Rio de Janeiro). Durante quase todo o ano de 1926 apresentou-se em São Paulo, capital e interior. Seus admiradores se uniram e deram-lhe um piano italiano de cauda Sanzin, que faz parte do acervo do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, Mário de Andrade fez uma conferência sobre sua obra na Sociedade de Cultura Artística, de São Paulo, SP. Retornou ao Rio de Janeiro em 1927, já apresentando sinais da surdez. Em 1929, morre sua mulher, o que lhe provocou profundo abalo.

Gravou para a fábrica Odeon, em 1930, o tango-brasileiro Escovando e o choro Apanhei-te Cavaquinho. Em 1932, fez várias excursões, principalmente para o sul do Brasil. Com o agravamento da surdez, tocava debruçado sobre o piano para conseguir ouvir sua própria música. Em 1933, apresentou graves perturbações mentais e foi internado no Instituto Neurosifilis da Praia Vermelha, sendo posteriormente transferido para a Colônia Juliano Moreira.

No ano seguinte fugiu e foi encontrado, 4 dias depois, afogado em uma represa. Há uma lenda segundo a qual ele teria sido encontrado morto debaixo de uma cachoeira. A sua postura era impressionante. Estava sentado, com a água lhe correndo por cima, com as mãos estendidas, como se estivesse tocando algum choro novo, que nunca mais poderemos ouvir... (Juvenal Fernandes, in Ernesto Nazareth, Antologia, Ed. Arthur Napoleão Ltda. AN-2087/88). Dele, disse Villa-Lobos: "Suas tendencias eram francamente para a composição romântica, pois Nazareth era um fervoroso entusiasta de Chopin." Querendo compor à maneira do mestre polonês e não possuindo a capacidade necessária para uma perfeita assimilação técnica, fez, sem o querer, coisa bem diferente e que nada mais é do que o incontestável padrão rítmico da música social brasileira. De qualquer maneira, Nazareth é uma das mais notáveis figuras da nossa música.

Ernesto Nazareth significa uma caso raro de ligação entre o erudito e o popular: não é um erudito, na acepção da palavra, nem é um compositor apenas popular. Ora se percebe em sua obra um toque chopiniano, especialmente nas valsas, ora a vibração de uma polca ou de um choro entranhados do espírito brasileiro.

Somente uma pequena parte das mais de 200 peças para piano compostas por Ernesto Nazareth foi gravada. Suas composições mais conhecidas são: Apanhei-te Cavaquinho, Ameno Resedá (polcas), Confidências, Coração que Sente, Expansiva, Turbilhão de Beijos (valsas), Bambino, Brejeiro, Odeon (abaixo) e Duvidoso (tangos brasileiros).

In: http://cifrantiga3.blogspot.com/


Vídeo: Abertura da Novela "A Sucessora" (1978/1979), da Rede Globo, com a música "Odeon" na voz de Nara Leão (música de Ernesto Nazareth e letra de Vinícius de Moraes).




"Odeon" é dedicado à empresa Zambelli & Cia., dona do cinema homenageado no título, onde o autor tocou na sala de espera. Localizado na Avenida Rio Branco 137, possuía duas salas de projeção e considerado um dos "mais chics cinematógraphos do Rio de Janeíro". Em 1968, a pedido de Nara LeãoVinícius de Moraes fez uma letra para "Odeon":

Ai, quem me dera / O meu chorinho / Tanto tempo abandonado / E a melancolia que eu sentia / Quando ouvia / Ele fazer tanto chorar / Ai, nem me lembro / Há tanto, tanto / Todo o encanto / De um passado / Que era lindo / Era triste, era bom / Igualzinho a um chorinho/ Chamado Odeon.

Terçando flauta e cavaquinho / Meu chorinho se desata / Tira da canção do violão / Esse bordão / Que me dá vida / Que me mata / É só carinho / O meu chorinho / Quando pega e chega / Assim devagarzinho / Meia-luz, meia-voz, meio tom / Meu chorinho chamado Odeon

Ah, vem depressa / Chorinho querido, vem / Mostrar a graça / Que o choro sentido tem / Quanto tempo passou / Quanta coisa mudou / Já ninguém chora mais por ninguém / Ah, quem diria que um dia / Chorinho meu, você viria / Com a graça que o amor lhe deu / Pra dizer "não faz mal / Tanto faz, tanto fez / Eu voltei pra chorar com vocês"

Chora bastante meu chorinho / Teu chorinho de saudade / Diz ao bandolim pra não tocar / Tão lindo assim / Porque parece até maldade / Ai, meu chorinho / Eu só queria / Transformar em realidade / A poesia / Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom / De um chorinho chamado Odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo / Eu até hoje ainda percebo essa ilusão / Essa saudade que vai comigo / E até parece aquela prece / Que sai só do coração / Se eu pudesse recordar / E ser criança / Se eu pudesse renovar / Minha esperança / Se eu pudesse me lembrar / Como se dança / Esse chorinho / Que hoje em dia Ninguém sabe mais.


Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34, in: http://cifrantiga3.blogspot.com/

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