quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vicente Celestino (1894/1968)



Antônio Vicente Filipe Celestino pode ser considerado o primeiro, ou um dos primeiros cantores brasileiros. Nascido no Rio de Janeiro, Vicente tinha onze irmãos, sendo que cinco se dedicaram ao canto e um se dedicou ao teatro.

Sua família veio da Calábria, na Itália, e Vicente teve uma infância pobre, trabalhando como sapateiro, peixeiro, jornaleiro e até numa empresa de calçados ele trabalhou.

Em 1903, Enrico Caruso (1873/1921, abaixo) esteve no Brasil, e ouviu Vicente cantar. Convidou o menino (9 anos) para ir com ele para a Itália, mas seu pai não aceitou.


A partir de 1912, Vicente passou a se apresentar em festas, serenatas e casas de chopp. Em 1913, abandou o serviço na sapataria, para se dedicar somente à música. Numa dessas apresentações, foi ouvido por Alvarenga Fonseca, que o levou para a Companhia Nacional de Revistas.

Ali, começou uma carreira de sucesso, a partir de 1914, aos 20 anos, sendo que sua primeira canção foi Flor do Mal:

Flor do Mal (Saudade Eterna)(valsa, 1912) - Domingos Correia e Santos Coelho - Interpretação: Vicente Celestino


Em 1915 ou 1916, gravou seu primeiro disco, com as músicas Flor do Mal e Os Que Sofrem (Alfredo Gama e Armando Oliveira), para a Casa Edison

Entre 1916 e 1919, dedicou-se a teatros, vindo a apresentar a peça Amor de Bandido (Oduvaldo Viana e Adalberto de Carvalho, em 1919.

Com a atriz e cantora Laís Areda, organizou sua própria companhia de operetas, em 1920, estreando com Loucuras de amor (Adalberto de Carvalho). No ano seguinte trabalhou nas óperas Tosca, de Giacomo Puccini (1858 1924) e Aida, de Giuseppe Verdi (1813—1901), e em Carmen, de Georges Bizet (1838/1875).

Os anos foram passando, e Vicente completou 30 anos (1924), e já tinha grande sucesso, mas ainda para as elites. Somente a partir de 1928 é que começou a alcançar maior popularidade: em apenas dois anos (até 1930), gravou 19 discos, com 35 músicas, como Santa (Freire Júnior, 1928), Nênias (Cândido das Neves, o Índio, 1929) e outras.

Essa leva de discos foi gravada na Odeon. Em 1932, Vicente passou a gravar para a Colúmbia, onde gravou o tango-canção Noite Cheia de Estrelas (que aqui é interpretada por Sílvio Caldas):

Noite Cheia de Estrelas (tango-canção, 1932) - Cândido das Neves - Intérprete: Sílvio Caldas


Essa música deu novo impulso à sua carreira, e em 1933 ele se casou com a atriz Gilda de Abreu:


Em 1935, já com 41 anos, Vicente Celestino mudou-se para a gravadora RCA Victor, onde gravou Ouvindo-te (composta por ele e em dupla com Gilda) e Rasguei o Teu Retrato (Índio):

Ouvindo-te (tango-canção, 1935) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino




Rasguei o Teu Retrato (tango-canção, 1935) - Cândido das Neves - Intérprete: Vicente Celestino




Foi a partir desses sucessos que Vicente Celestino passou a se dedicar mais à composição, criando outros sucessos:

O Ébrio (canção, 1936) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino




Coração Materno (tango-canção, 1937) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino






Patativa (canção, 1937) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino






Porta Aberta (canção, 1946) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino




Em 1941, Vicente transformou a música O Ébrio em peça teatral, passando a apresentá-lo em suas excursões. Em 1946, foi a vez de Coração Materno. Nesse mesmo ano, Gilda de Abreu filmou O Ébrio, com Vicente no papel principal:



Tornei-me um ébrio, na bebida busco esquecer
Aquela ingrata que eu amava, e que me abandonou
Apedrejado pelas ruas, vivo a sofrer
Não tenho lar, e nem parentes, tudo terminou

Em 1951, Gilda de Abreu e Vicente Celestino estrelaram o filme Coração Materno, baseado na canção homônima, alcançando enorme sucesso, apesar dessa ser umas das músicas mais trágicas da MPB:


A música conta a história de um camponês (campônio) que, para provar seu amor à mulher amada, tira o coração da própria mãe. Quando vai encontrar com a amada, tropeça e cai, quebrando a perna. O coração cai ao chão e "fala": magoou-se? Vem me buscar...

Por incrível que pareça, essa música fez enorme sucesso na época. Já o filme não fez tanto, talvez porque Gilda de Abreu tenha suprimido a cena do assassinato da mãe...

Em 1968, Vicente Celestino seria homenageado pelos baianos do Movimento Tropicalista. Mas, minutos antes de se apresentar, sofreu um infarto, indo a óbito. Deixou 137 discos de 78 rpm, com 265 músicas gravadas, dez compactos e 31 LPs...

Abaixo, a gravação de Coração Materno, feita por Caetano Veloso em 1968, como um culto ao brega, ao cafona, da Tropicália:


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