segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Milagre das Antenas e do Microfone (Parte 2)

"Senhores ouvintes, bom dia! o rádio traz a paz, a educação, a alegria!" Há programas para todos os gostos e todas as horas.

Com a introdução do patrocínio de anunciantes, apareceram de imediato os programas de "variedades", primeiros a transformar o rádio em fenômeno social, com milhares e milhares de ouvintes cativos, os fans, que permitiram ao rádio influenciar o comportamento das pessoas e ditar suas modas. Em 1932, o programa Ademar Casé (abaixo), mais que os seus rivais ("Horas do Outro Mundo", de Renato Murce, assim chamado porque a irradiação era hipoteticamente feita em Saturno, e "Esplêndido Programa", de Waldo Abreu), desenvolvia todo o potencial do rádio. Casé mandava ao ar humorismo, teatro, contos e episódios históricos radiofonizados, paródias, música popular, histórias reais dramatizadas etc. etc. A grande audiência desse programa permitiu que, sob os auspícios de um purgante fabricado pelos Laboratórios Queirós, fossem lançados, entre outros, Carmen Miranda, Mário Reis, Francisco Alves, Lamartine Babo, Almirante, Noel Rosa e, até mesmo, o instrumentista Eleazar de Carvalho.


Mas, ao mesmo tempo que muitos se deliciam com a nova programação, outros protestam pelo desvirtuamento da função educativa do rádio. "O rádio é um optimo professor", escreve um ouvinte para a revista Carioca pedindo aulas de português, pois "desse modo veríamos acabar em pouco tempo este paradoxo: um povo que fala mal a própria língua". Sobre a correção da linguagem, outro ouvinte protesta: "Lá está o professor Bacuráo a contar, para a petizada, anedotas caipiras, que só servem para ensinar-lhes a falar errado".


Muitos escrevem para reclamar contra o abandono da tradição erudita: "Nossos ouvintes já se acham fatigados de tantas emboladas, rumbas, fox e sambas, que mais parecem música de negro em dia de candomblé". Outro ouvinte, menos preconceituoso, sugere que o samba pode ser tocado, mas desde que possua enredo, conte uma história edificante (como se fosse ópera), pois com letras tais como 'Meu Deus, que moamba, macaco me lamba', o que podem dizer os que no estrangeiro ouvem o programa nacional?"





Lasar Segall - Baile de Negros (1930)


Na verdade, o ouvinte do rádio em começos de 30 vive um conflito. O rádio lhe fora apresentado como símbolo de status e erudição, e de repente...Como explica um ouvinte: "Psychologicamente falando, o ouvinte de rádio é um typo interessante. Se faz parte da alta sociedade, recebe em casa o gran-fino, mantém o receptor na ópera, conversa acerca de Verdi. Mas quando as visitas se retiram...'No tabuleiro da bahiana tem...' "






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