quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mulheres Negras Na Música - Parte 1

1) Chiquinha Gonzaga (RJ, 1847/1935) - Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro e era filha de um general do Exército Imperial Brasileiro e de uma "negra muito humilde". Seu padrinho foi o Duque de Caxias e ela compôs sua primeira música aos 11 anos. Foi obrigada a casar aos 16 anos e teve três filhos desse casamento. Mas ficou somente com o mais velho, quando separou-se (escolheu a música ao marido, que vivia ausente). Em 1867, aos 20 anos, casou-se novamente, e teve uma filha. Mas as traições do marido a fizeram separar-se novamente, e ele ficou com a guarda da filha. Quando tinha 52 anos (1899) conheceu o grande amor de sua vida, o jovem João Batista, de 16 anos. Para evitar escândalos, ela fingiu adotá-lo e foram viver em Portugal durante anos. Foi nessa época que conheceu a jovem Nair de Tefé e logo se tornaram boas amigas. Mais tarde, Nair se casou com o Presidente Hermes da Fonseca, tornando-se Primeira-Dama. Em 1914, Nair convidou Chiquinha para tocar o maxixe Corta Jaca (1908) no Palácio do Catete, sede do Governo, sendo que ela mesma tocou violão. Um escândalo que foi noticiado em jornais da época. Além do Corta Jaca, Chiquinha também ficou conhecida pela marcha carnavalesca Ó Abre Alas (1899);


2) Zaíra de Oliveira (RJ, 1891/1952) - estudou no Instituto Nacional de Música, onde cursou canto lírico e se tornou soprano. Em 1921, ganhou um concurso de música, cujo prêmio era uma viagem à Europa. Mas ela não recebeu o prêmio, segundo alguns, pelo fato de ser negra. Em 1924, gravou seu primeiro disco, com dois foxtrotes: "Tudo a la garçonne" e "La monteria". Apresentou-se no Teatro Municipal de Niterói e no Cassino Copacabana, onde se apresentou ao lado de Catulo da Paixão Cearense e Bahiano. Mas seu maior êxito foi Dondoca (1927), de José Francisco de Freitas. Na década de 30, passou a se apresentar na Rádio  Sociedade do Rio de Janeiro e, em 1932, se casou com Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos), com quem teve uma filha, Lígia. Gravou 22 discos de 78 rpm.



3) Clementina de Jesus (RJ, 1901/1987) - Clementina de Jesus da Silva nasceu em Valença, RJ. Mudou para a capital em 1909. Morava no bairro Osvaldo Cruz, onde nasceu a Escola de Samba Portela (1923). Mas, em 1940 casou-se, mudando para o bairro da Mangueira. Humilde, trabalhou como doméstica por mais de 20 anos, até que foi "descoberta" em 1963, por Hermínio Bello de Carvalho. Desde então, gravou cinco discos (1966, 1970, 1973, 1976 e 1979). Ficou conhecida pelas músicas Marinheiro Só  e Na Linha do Mar (1973), Ajoelha (1976) e Sonho Meu (1979). Em 1977 foi homenageada com a música Clementina, Cadê Você?, cantada por Clara Nunes. Era conhecida como Rainha Ginga e Quelé. Morreu vitimada por um derrame;


4) Aracy de Almeida (1914/1988) - Araci Teles de Almeida era carioca, e pertencia a uma família protestante. Quando jovem, cantava hinos na Igreja Batista, mas frequentava terreiros de candomblé, onde tinha contato com música negra. Em 1933 conheceu o compositor Custódio Mesquita e, por intermédio dele, foi cantar na Rádio Educadora (depois Tamoio). Ali conheceu Noel Rosa e tornou-se sua companheira de boemia e principal intérprete. Passou a se apresentar em diversas rádios, e até fez uma excursão pelo Rio Grande do Sul, com Carmen Miranda. Em 1936, gravou Palpite Infeliz, de Noel, e em 1937 gravou Último Desejo, pouco antes de Noel morrer. Em 1938 gravou Feitiço da Vila, de Noel e em 1939 gravou Camisa Amarela, de Ary Barroso. Ela ainda gravaria dois LPs com músicas de Noel Rosa, um em 1950 e outro em 1951. Nas décadas de 60 e 70 entrou em decadência, perdendo espaço para a bossa nova. Foi então para a televisão, onde trabalhou como jurada com diversos apresentadores (Bolinha, Chacrinha, Sílvio Santos e outros). Morreu de um edema pulmonar;



5) Elizeth Cardoso (RJ, 1920/1990) - Elizeth Moreira Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, num subúrbio da Zona Norte, onde cantava desde pequena. Seu pai era seresteiro e ela cantava sucessos de Vicente Celestino. Entre 1930 e 1935 foi balconista, funcionária de uma fábrica de saponáceos e cabeleireira. Quando fez 16 anos (1936), no dia de seu aniversário, foi convidada pelo chorão Jacob do Bandolin para um teste na Rádio Guanabara. Começou sua carreira naquele ano e em 1939 casou-se com músico e comediante Ari Valdez, mas o casamento durou pouco. Em sua carreira, gravou dezenas de discos, sendo o primeiro em 1950, em 78 rpm e o último em 1991. Suas interpretações mais conhecidas são Linda Flor (1955), Chega de Saudade (1958) e Naquela Mesa (1972). Era conhecida como A Divina;



6) Carmen Costa (RJ, 1920/2007) - Carmelita Madriaga nasceu em Trajano de Moraes (RJ), e foi empregada doméstica do cantor e compositor Francisco Alves. Durante uma festa, com a presença de Carmen Miranda, Chico Viola a incentivou a cantar e seguir carreira. Assim, ela foi parar no programa de Ary Barroso, onde venceu um concurso, e passou a fazer dupla com o cantor Henricão (Henrique Felipe da Costa, 1908/1984). Em 1945, ela se casou com o americano Hans Van Koehler e foi morar nos EUA. Voltou ao Brasil na década de 50, e teve um romance de 5 anos com o compositor Mirabeau Pinheiro, com quem teve sua única filha, Silésia. Gravou 7 LPs, 2 CDs e 59 discos de 78 rpm. Suas músicas mais conhecidas são Está Chegando A Hora (1942), Cachaça (1952) e Eu Sou A Outra (1953), entre outras.



7) Dona Ivone Lara (RJ, 1921/) - Yvonne Lara da Costa é do Rio de Janeiro e perdeu o pai aos três anos e a mãe aos doze. Foi criada pelos tios, com quem aprendeu a tocar cavaquinho. Teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos, esposa do maestro Heitor Villa-Lobos. Em 1946 casou-se com Oscar Costa, filho  de Alfredo Costa, Presidente da Escola de Samba Prazer da Serrinha. Também trabalhou como assistente social, e trabalhou em hospitais psiquiátricos, onde conheceu a Doutora Nise da Silveira. Quando Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira se desentenderam com Alfredo Costa e fundaram a Império Serrano, ela foi junto e passou a desfilar na ala das baianas. Em 1977 se aposentou como assistente social, e dedicou-se apenas à música. Gravou dezesseis discos até o presente momento e tem, entre seus sucessos, as músicas Tiê Tiê (1974), Sorriso Negro (1982), Lamento do Negro (1983) e outras;



8) Inhana (SP, 1923/1981) - Ana Eufrosina da Silva Santos nasceu na cidade de Araras, em SP, e seu primeiro contato com a música foi participando de um conjunto com os irmãos. Em 1941, quando tinha 18 anos, conheceu a dupla Chopp e Cascatinha (nome de uma cerveja famosa na época) e, neste mesmo ano, casou com Cascatinha (Francisco dos Santos - 1919/1996). Os três formaram, a princípio, o Trio Esmeralda, e Ana adotou o nome artístico de Inhana. Fizeram sucesso nas rádios Mayrink Veiga e Nacional, no Rio de Janeiro. Em 1942, Chopp abandonou a dupla, que passou a ser conhecida como Cascatinha e Inhana. Os dois ingressaram na trupe do Circo Estrela D'Alva, viajando pelos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Depois ingressaram no Circo Imperial, onde ficaram cinco anos. Em 1947 se apresentaram na Bauru Rádio Club, pela primeira vez como dupla. Em 1950 foram contratados pela Rádio Record, onde ficaram até 1962. Em 1951, gravaram seu primeiro disco, pela Todamérica, onde cantaram La Paloma e Fronteiriça. Em 1952 gravaram seus dois maiores sucessos: Meu Primeiro Amor e Índia, as duas versões feitas por José Fortuna. Em 1953 gravaram Mulher Rendeira e em 1959 gravaram Colcha de Retalhos. Também participaram de filmes e Inhana gravou disco solo. Assim, tornaram-se uma das maiores duplas sertanejas brasileiras, e mantiveram-se ativos até a morte de Inhana, em 1981.



9) Ângela Maria (RJ, 1928/) - Abelim Maria da Cunha nasceu em Conceição de Macabu (RJ), filha de um pastor evangélico e uma dona-de-casa. Por isso, seus primeiros contatos com a música foi cantando no coral da Igreja Batista. Mudou-se muito, e seus primeiros empregos foram numa fábrica de lâmpadas e numa fábrica de tecidos. Mesmo contra a vontade do pai, acabou conseguindo se apresentar numa rádio e, em 1947, começou uma das carreiras mais famosas do Brasil. Adotou o nome Ângela Maria para não ser descoberta pelos pais. E assim, em 1951, entrou na Rádio Mayrink Veiga. A essa altura, os pais já sabiam, e mesmo não aprovando, aceitavam. Gravou dezenas de sucessos como Não Tenho Você (1951), Fósforo Queimado (1953), Vida de Bailarina (1954), Lábios de Mel (1955), Balada Triste (1958), Cinderela (1966), Gente Humilde (1970). Mas o sucesso pelo qual é mais lembrada é Babalu, versão da música de 1941. Sua vida pessoal, ao contrário da profissional, foi muito sofrida: casou quatro vezes, mas sofreu muito na mão dos maridos, sendo inclusive espancada. Somente quando conheceu o atual marido, Daniel (mais de 30 anos mais jovem) é que descobriu a felicidade. Antes disso, passou por situações de pobreza e até tentou suicídio. Seu apelido é Sapoti, dado por Getúlio Vargas. Gravou 14 LPs, 11 Compactos Simples e 20 Compactos Duplos, entre outros (Fonte: http://www.angelamaria.com.br/discos.html):




10) Dolores Duran (RJ, 1930/1959) - Adiléia Silva da Rocha nasceu no Rio de Janeiro e, além de cantora, também compôs muitas músicas. Sua infância foi pobre e ela não conheceu o pai. Desde pequena gostava de cantar, mas contraiu febre reumática, que deixou sequelas para a vida toda, principalmente um sopro cardíaco. Mesmo assim, a garota não desanimou e, aos 12 anos (1942) ganhou o primeiro prêmio no programa Calouros Em Desfile, de Ary Barroso. Parou de estudar, e se dedicou à carreira artística. Depois, ela foi auxiliada pelo casal Lauro e Heloísa Paes de Andrade, e adotou o nome Dolores Duran. E, mesmo sem conhecer línguas, começou a cantar em diversos idiomas. A cantora Ella Fitzgerald garantiu que a sua interpretação de My Funny Valentine foi a melhor que já ouvira. Ela logo adquiriu fama, namorou com Billy Blanco e João Donato, e compôs várias músicas em parceria com Tom Jobim e até com Chico Anísio. Em 1955 sofreu um infarto, mas não deu atenção às recomendações médicas, abusando do cigarro e do álcool. Uniu-se ao compositor Macedo Neto, engravidando dele. Mas teve uma gravidez tubária, se tornando estéril e perdendo o feto. A depressão que a acompanhava aumentou, mas ela decidiu casar com Macedo. Mas ele proibiu a mãe dela de assistir o casamento por ela ser negra. Somente a irmã Denise compareceu. O casamento durou até 1958, quando ela foi para a Europa, Ásia e Uruguai. Na volta, adotou uma menina pobre e negra, batizando-a de Maria Fernanda da Rocha Macedo. O ex-marido aceitou dar-lhe seu nome, mesmo não estando mais casado com Dolores. No último dia de sua vida, chegou em casa às sete da manhã, brincou com a filha adotiva e avisou a empregada: "não me acorde, pois quero dormir até morrer". De fato, sofreu um infarto fulminante durante o sono, e morreu aos 29 anos. Gravou mais de 20 discos e deixou músicas inesquecíveis como Canção da Volta (1955, de Ismael Netto e Antonio Maria), Por Causa de Você (1957, Dolores Duran e Tom Jobim), Não Me Culpes (1958, Dolores Duran), Viva Meu Samba (1958, Billy Blanco), Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran, 1958), Prece de Vitalina (1959, Chico Anísio e Dolores Duran), A Noite do Meu Bem (Dolores Duran, 1959) e Fim de Caso (Dolores Duran, 1959), entre outras.



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