quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ataulfo Alves (1909/1969)



Para Ataufo Alves existia somente uma mulher de verdade e seu nome era Amélia. O mineiro, compositor de um dos maiores sucessos da musica popular brasileira, saiu aos 17 anos do município de Miraí, em Minas Gerais, com oportunidade de trabalho no Rio de Janeiro.
No Rio, precisou se adaptar as novas rotinas de trabalho no consultório do médico Afrânio Moreira Resende, para quem entregava recados e receitas.. A noite, ainda fazia faxina na casa do doutor. Seu próximo emprego seria na Farmácia e Drogaria do Povo, aonde começou como lavador de vidros e depois logo se tornou prático.
Morador do bairro Rio Comprido, Ataulfo já mostrava habilidade com o violão, cavaquinho e bandolim. Foi quando começou a participar de rodas de samba. Com 20 anos passa a compor e se torna diretor do bloco "Fale Quem Quiser". Nessa época, já estava casado com Judite, que conheceu aos 19 anos.
O compositor Alcebíades Maia Barcelos, o Bide, que já fazia sucesso com "Agora é Cinza", ouviu então algumas composições de Ataulfo e resolve apresentá-lo para Mr. Evans, diretor da gravadora RCA Victor.
Com a carreira de compositor engrenando, é a vez de Carmen Miranda gravar "Tempo Perdido". A partir daí, começaram a surgir novos intérpretes para suas obras. "Saudade do meu Barracão" foi gravada por Floriano Belham, e viria a ser o seu primeiro samba conhecido. Em 1936, Silvo Caldas grava "Saudade Dela" e também a valsa "A Você", parceria com Aldo Cabral. No mesmo ano, Carlos Galhardo lança "Quanta Tristeza".
Disposto a dar voz as suas próprias músicas, Ataulfo grava "Leva meu samba" e "Alegria na casa de pobre", que fez em parceria com Abel Neto, em 1941. Nessa mesma época, viria a compor uma de suas mais famosas composições. Em parceria com Mario Lago, surge então "Ai que saudades da Amélia".
Para a surpresa de Ataulfo e seu parceiro, "Amélia" é recusada por vários interpretes que alegaram ser um samba "desinteressante e menor". Tendo já algumas dificuldades financeiras, Ataulfo gravar ele mesmo a canção. Com o sucesso, a parceria com Mario Lago se estende a "Atire a primeira pedra", "Capacho" e "Pra que mais felicidade".
Novamente na boca do povo, o compositor resolve ousar e cria o grupo "Ataulfo Alves e suas Pastoras", com Olga, Marilu e Alda na primeira formação.. "Inimigo do Samba" e "Todo Mundo Enlouqueceu", ambas em parceria com João de Castro, são algumas músicas gravadas pelo grupo.
Na década de 1950, Ataulfo Alves foi o grande responsável por retratar na música "Errei, sim" o fim do casamento de uma das cantoras mais populares da época, Dalva Oliveira, que também gravou "Fim de Comédia" do compositor.
Anos depois, o cantor abandona as suas pastoras e volta a se apresentar sozinho. Inicia uma temporada no Top Club, no Rio de Janeiro, em 1964. Dois anos depois, é convidado para representar o Brasil no I Festival de Arte Negra em Dacar, capital do Senegal.
Na volta, uma úlcera do duodeno que lhe acompanhava há anos se agrava obrigando-o a passar por uma cirurgia. Internado na Casa de Saúde de São Sebastião, Ataulfo morre no dia 20 de abril de 1969 por complicações no ato cirúrgico.

Contexto Histórico

Mais que um pretexto para reunir os amigos, as rodas de samba no bairo Estácio de Sá, no Rio, eram as grandes responsáveis por diversas composições de sucesso da época.
Ali, Ataulfo Alves ia se firmando com suas melodias e se destacando por suas letras. A vida dura na infância, na qual teve de trabalhar desde pequeno, e seu jeito de menino do interior somado a algumas desilusões amorosas contribuíram para que suas melodias fossem caracterizadas como "ataufianas": saudosas e tristes.
Em 1940, no período do Estado Novo, o samba "O Bonde de São Januário", em parceria com Wilson Batista, sofreu uma censura pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). O órgão era orientado por Getúlio Vargas a avaliar nos sambas a figura do trabalhador, enaltecendo-o e não dando margem para apologias a vadiagem.
Nos versos "O Bonde São Januário/Leva mais um sócio otário/Sou eu que vou trabalhar...", "sócio otário" teve de ser retirado e modificado "por operário".
Em 1950, quando o samba começa a dar espaço para bossa nova, Ataulfo continuava em destaque. Suas composições falavam exatamente de fossa e dor de cotovelo, temas em alta naquele período. "Acho que guardei na memória, sem saber, muita toada da roça e isso tem influencia no meu samba, é por isso que ele é assim triste", explicava o compositor.

Curiosidades

Marca Registrada

Muito elegante, Ataulfo usava sempre um lenço branco para reger seu conjunto. Em 1965, já não muito bem de saúde, passou a seu filho Ataulfo Alves de Souza Júnior o lenço para que o mesmo desse continuidade ao seu trabalho.

Coisas do destino

Antes de Carmen Miranda se tornar uma estrela e gravar "Tempo Perdido" de Ataulfo, o compositor já a havia conhecido como Maria do Carmo, amiga de uma das filhas de seu patrão. Aos 19 anos, Ataulfo chegou a conversar com a moça que sonhava em ser famosa. Tempos depois, quando se encontraram na gravadora RCA Victor, Carmen lembrou do rapaz. "Você não é aquele rapaz da farmácia?" "Perfeitamente", respondeu . "Mas você não era compositor!", disse Carmen, surpresa. "Você também não era cantora!", rebateu Ataulfo.

De época

Vencedora de concursos carnavalescos, o samba "Oh, Seu Oscar" conta a história de um homem que foi deixado pela mulher. Nesse período, o nome "Oscar" era uma gíria usada pelos freqüentadores do Café Nice que significava homem tolo, ingênuo, o que hoje é conhecido como "corno".

Empreendimento

Depois de uma viagem para divulgar a música brasileira no exterior, Ataulfo resolve criar a ATA (Ataulfo Alves Edições) e passa a editar suas próprias músicas.

Dito popular

A música "Ai que saudades da Amélia" além de ter sido grande sucesso tornou-se sinônimo para donas de casas que cuidavam de seus filhos e maridos. Ainda depois do movimento feminista, "Amélia" passou a ser designada a mulheres ingênuas, bobas e que se escondiam por trás de seus maridos somente acatando suas ordens.

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